Uma perda irreversível vem enterrando, faz tempo, o futuro do Espírito Santo. Em 2009, a taxa de homicídios de jovens de 12 a 17 anos, de 54,7 por 100 mil da respectiva faixa etária, foi a maior do Brasil. Essa posição mortal também se deu em 2008 – com uma taxa de 49,1. O Estado disputa os primeiros lugares no obituário de jovens com Alagoas e Pernambuco. Em Santa Catarina, a mesma taxa, em 2009, não chegou a dois dígitos: 8,4. São dados do relatório da Unicef intitulado “Situação da Adolescência Brasileira 2011″. Como explicar esse disparate na morte e na vida juvenis e a passividade contrastante?
Abordam-se “nove fenômenos sociais” comprometedores do desenvolvimento de adolescentes brasileiros. São eles: a) pobreza; b) baixa escolaridade; c) exploração do trabalho; d) privação da convivência familiar e comunitária; e) violência. Os outros quatro abrangem comportamentos: f) gravidez; g) exploração e abuso sexual; h) DST/Aids e i) drogas.
Para alguns desses “fenômenos”, o citado relatório apresenta, além da violência, outros dados estaduais. Selecionei os de renda e trabalho. No Espírito Santo, 13% dos adolescentes de 12 a 17 anos viviam, em 2009, em famílias extremamente pobres – maior percentual dos Estados das regiões Sudeste e Sul. Contudo, para que não se estabeleça uma correlação direta entre pobreza e homicídio juvenil, Alagoas tem um percentual quase três vezes maior de adolescentes – 38,4% – na mesma situação familiar de renda que a do ES, e, no entanto, uma taxa de homicídios menor.
Apenas 56,7% dos adolescentes de 16 a 17 anos haviam concluído, em 2009, o ensino fundamental – ou seja, tinham no mínimo oito anos de estudo. Esse percentual é inferior às médias do Sudeste e Sul – mas também superior às de Alagoas e Pernambuco. No entanto, um indicador de educação do Censo 2010, porém, deveria despertar toda a atenção: o ES tem o oitavo maior percentual – 19% -, quase 35 mil jovens de 15 a 17 anos que não frequentavam escola; o de Alagoas é 19,2%.
Em 2009, tão somente 54,4 % dos jovens de 15 a 17 anos estavam no ensino médio – percentual pouco maior que o de 2004: 50,3%. É a exclusão do ensino médio. Então, estariam trabalhando? 3,2% dos adolescentes de 12 a 17 anos estavam nessa situação em 2009. O que esses jovens estão fazendo? Os que sobreviverem, o que prognosticar sobre os seus futuros?
Por que essa epidemia de mortes e exclusão juvenis no Estado, que atinge ainda mais os negros, não gera mobilizações, reuniões e ações continuadas pró-vida?
12/12/2011 – A Gazeta
Roberto Garcia Simões é professor da Ufes e especialista em políticas públicas
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