O estilo do governo é burocrático-silencioso-autocrático. No caso do trem-bala, por exemplo, espanta o déficit de debate público, considerado o montante de dinheiro público demandado
O Brasil precisa de um trem-bala no eixo Campinas-São Paulo-Rio de Janeiro? Claro que precisa. Aliás, seria exercício interessante fazer a lista de todas as coisas das quais o país anda necessitado.
Faltaria papel, caso alguém quisesse imprimir.
Ao contrário das nações já completamente desenvolvidas, ainda há aqui muitíssimo a fazer. Eis também por que nós e os demais emergentes vamos em vantagem no contexto planetário de crise.
Aqui não é preciso criar necessidades para preenchê-las. Elas nos gritam ao ouvido 24 horas por dia.
O problema não está porém na necessidade genérica de um trem de alta velocidade para cortar nossa principal conurbação. Está na prioridade de fazê-lo.
Talvez os especialistas possam, por exemplo, dizer quantos quilômetros e composições de trens velozes, mas nem tanto, daria para integrar à malha ferroviária brasileira com o mesmo dinheiro.
Seria bom poder trocar a congestionada Ponte Aérea por um trem superveloz? Seria ótimo. Seria bom se nossas commodities e mesmo os industrializados pudessem chegar aos portos a um custo menor, para ganhar competitividade? Seria excelente.
Especialmente com um real cronicamente forte.
Como então resolver o que fazer e o que não? Ou o que fazer antes e depois?
Este governo acabou construindo um método. O governante decide o que é bom para o Brasil e as dúvidas são imediatamente debitadas da conta dos inimigos do país, da turma que pensa pequeno, do grupinho que tem complexo de vira-lata.
De vez em quando dá confusão, quando o próprio governo resolve engatar a ré, deixando ao relento a legião dos incondicionais. Mas não tem sido a rotina.
Nos tempos de Luiz Inácio Lula da Silva havia pelo menos a “luta política”. O então presidente avermelhava o rosto, inchava a veia do pescoço e sua voz rouca saía a atacar quem dele discordasse.
Era rudimentar, mas não deixava de representar alguma satisfação. Quem se dispusesse, que confrontasse publicamente o chefe do governo. Não havia muita disposição para enfrentar, mas ninguém podia reclamar da falta de oportunidade.
Agora não. O estilo é burocrático-silencioso-autocrático. No caso do trem-bala, por exemplo, espanta o déficit de debate público, considerado o montante de dinheiro público demandado.
Do jeito que vai, a coisa acaba chegando perto -se não passar- dos três dígitos de bilhões. É dinheiro em qualquer lugar do mundo.
É dinheiro público porque o pagador de impostos e o assalariado ficam com a conta e com a dívida resultantes do descasamento dos juros na captação e no empréstimo pelo BNDES.
Numa situação normal, o governo estaria obrigado a explicar por que vai fazer uma coisa e não outra. Os ministros envolvidos deveriam ir muitas vezes ao Congresso prestar contas, enfrentar questionamentos.
Agora sim seria hora de multiplicar os power points.
Mas não vivemos uma situação normal. O poder transformou-se numa confraria com quase todo mundo dentro. E o Congresso anda capenga faz tempo, pelo menos desde o governo Fernando Henrique Cardoso.
O “quase” do parágrafo anterior é por causa do cidadão comum. Que fica completamente por fora. Menos na hora de pagar a conta.
Sua única opção, como se diz, é ir reclamar com o bispo.
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