Em 1978, com entrevistas e exposição de pinturas na Sede Comunitária da Barra do Jucu, procurei chamar a atenção para a agonizante mata do Jussará, hoje bairro habitado chamado Ilha da Jussara. Esta mata fixada sobre um conjunto de ilhas, em área alagada, ficou preservada de incêndios ao longo dos séculos. Nesse ambiente com árvores e samambaias gigantes, diversos tipos de bromélias, orquídeas e animais, foi onde conheci tagibebuia, samuma, sumaré e o chupati,: o menor marsupial do Brasil.
O Jussará foi loteado. Em pouco tempo as árvores foram cortadas, as samambaias transformadas em xaxins, a terra vegetal e areia pirateadas, drenaram e aterraram. Não sobrou vestígio do que era.
Com a morte do Jussará, me interessei por Jacaranema. Com o apoio da Banda de Congo da Barra conseguimos que a Prefeitura de Vila Velha desapropriasse e o Governo do Estado tombasse Jacaranema. Ações confirmadas várias vezes, pois o governo ainda não cumpriu a sua parte indenizando o proprietário, como manda a Lei, para que o local seja público de fato.
No princípio da década de 1980, no Conselho Estadual de Cultura, fui escolhido relator do processo de Tombamento da Igreja de Viana. Tentei proteger seu entorno impedindo a ocupação da única Praça da Cidade. Naquele ano, loteamento aprovado pela prefeitura permitia a construção de doze imóveis naquela Praça: um da igreja, um da prefeitura, e os demais particulares.
Na década de 1990, portanto 100 anos após a ocupação de Copacabana, que possui ruas largas e várias praças, tentei influir na ocupação da Praia da Costa expondo pinturas e publicando textos. Ela lamentavelmente ficou com paredões a beira mar, sombras extensas na praia, ruas estreitas e sem nenhuma praça.
Na década de 2000, com a instalação artística “Praça é praça, não?” (veja em www.galveas.com/atividades), que consistiu em panfletagem e pinturas em telas emolduradas e fixadas no tapume da obra, então só iniciada, tentei impedir a ocupação da Praça Principal de Vila Velha, com a construção do prédio “Titanic”.
Na década de 2010, foi a vez do Cais das Artes, apelidado de “Masmorrão”. Tentei mostrar a impropriedade do local escolhido para sua construção, na Praça do Papa, em Vitória. O projeto volumoso do arquiteto que não foi premiado no Espírito Santo, pois aqui não houve concurso, está sendo edificado em área pública muito menor do que o Aterro do Flamengo.
No Rio, ambiente cultural mais independente e progressista, cariocas expulsaram de sobre as águas da Lagoa Rodrigo de Freitas uma gigantesca aranha de ferro, que a artista contemporânea Tomie Ohtake, ali havia instalado.
Aqui na província, enquanto mentalidades tacanhas se impressionam com nomes, títulos alienígenas e aceitam passivamente essas violências na ocupação de espaços públicos em áreas congestionadas; no Rio, Élio Gaspari (A Gazeta, 27/11/2011) denuncia o uso do “aríete Niemeyer para arrombar o Aterro do Flamengo, com a construção de uma casa de espetáculos com três mil lugares”.
Se quisermos preservar traços da nossa identidade e uma razoável qualidade de vida em nossas cidades, temos que valorizar o bem comum e aprender a reagir, como fazem os nossos vizinhos cariocas.
Que a minha coleção de fracassos em propostas ambientais seja um apelo ao bom senso dos governantes dos três poderes, sindicatos e associações de classes, universidades, mídia; e que estimule a soma de esforços na preservação de nossos valores e na construção de um lugar agradável para vivermos.
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