terça-feira, 1 de novembro de 2011

Candidato único? (Roberto Garcia Simões)

Parece que o ex-governador Paulo Hartung está para ser ungido candidato único (ou quase) a prefeito de Vitória. Algo semelhante foi buscado no processo eleitoral para governador. A candidatura Casagrande quase atingiu esse propósito: aliança de 16 partidos, mais de 80% dos votos. A eleição vira, assim, uma mera formalidade: o voto confirma na urna o que já foi confirmado nas cúpulas. Institui-se um simulacro de democracia.

Na Capital, tece-se o acordo PMDB-PT, onde há alguma resistência. Nele, há ideias convergentes? Predominam concepções antagônicas de Estado e políticas públicas. Qual é, então, a conveniência desse acordo? O prefeito Coser declarou, no poder, que é favorável à alternância de poder. Por que esse altruísmo? Em 2014, o ex-prefeito poderá ser o candidato da unanimidade ao Senado. Assim, a "fila" andaria sob férreo controle das senhas.

Ao acordo PMDB-PT, não faltariam partidos a serem acrescidos. Com a megacoligação, a (quase) candidatura única extinguiria os riscos e as incertezas da competição democrática. A definição prévia do prefeito, mediante acordo de dirigentes das máquinas partidárias, é a certeza da vitória. Será que o PSDB continuará contrariando a unanimidade? Ou depois aderiria, como acontece agora depois da oposição na campanha, ao governo Casagrande?

Nessa nomeação antecipada do prefeito, outro candidato não passaria de anticandidato. Ambas lembram o regime autoritário pós-64. Para que campanha e propaganda? A governabilidade total poderia vir associada a uma seleção de vereadores. Nas negociações entrariam assessorias, comissionados e quejandos. Cem por cento de estabilidade, sem controle e fiscalização. Unidade não significa extirpar diferenças, aniquilando oposições - substituindo-as por "descontentamentos". Muito menos formatar um pensamento político único que constrange instituições.

Como o candidato vitorioso é conhecido antes mesmo das velozes urnas eletrônicas, essa metamorfose teria projeção nacional. Como foi possível concretizá-la: abolir o poder da cidadania de, entre opções diferenciadas de candidatos, escolher e votar? Mais ainda, de que forma foi alcançada uma única candidatura na democracia capixaba?

O Espírito Santo seria pioneiro na constituição do monopólio político-eleitoral fora dos regimes totalitários. Na política não há agência reguladora da concorrência. Mas a opinião pública democrática precisa resgatar a "democracia real" - um clamor nas manifestações em todo o mundo.

Roberto Garcia Simões é professor da Ufes e especiaIista em Políticas Públicas
E-mail: robertog@npd.ufes.br

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