quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Fica mais difícil descolar presidente de malfeitos ( Raymundo Costa)

A eventual queda do sétimo ministro do governo Dilma Rousseff deixa a cada dia mais difícil "descolar" a presidente dos "malfeitos" praticados pelos auxiliares. Todos os que caíram - ou estão por sair - são seus contemporâneos do governo passado, quando ela exercia o efetivo comando da administração federal a partir da Casa Civil da Presidência da República

No caso do Carlos Lupi, a situação é mais grave porque o Palácio do Planalto reconhece que desde sempre sabia das denúncias. Algumas das acusações que podem derrubar o ministro do Trabalho são de 2009. É desse ano a viagem do ministro no avião de um dono de ONGs que fizeram convênios com o ministério.

A sobrevida de Lupi contrasta com a imagem de uma presidente "durona" que faz e acontece e está tão à vontade no Planalto quanto estava no Ministério de Minas e Energia e na Casa Civil. Costumam reverberar em Brasília as famosas "broncas" em ministros apanhados desprevenidos, em algum assunto, nas audiências com a presidente.

A justificativa de que o passado é passado (os ministros exonerados são todos oriundos do governo Lula) agrava, em vez de amenizar a responsabilidade da governante. Afinal, quem manda nos ministros: Dilma, Lula ou os partidos da base aliada que os indicaram? Com 26 deputados, a bancada do PDT na Câmara ameaçou deixar a base, se Lupi fosse defenestrado. Lupi ficou.

Ficou como tem ficado desde o início do governo Dilma, uma concessão ao PDT, na chefia de um ministério desidratado de funções. Lupi esteve à margem das negociações das greves recentes nos setores público e privado, por exemplo, que foram conduzidas no gabinete de Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência).

Até agora Dilma conseguiu manter sua imagem "descolada" das irregularidades atribuídas a seis dos sete ministros que deixaram o governo, em seis meses. A exceção - ressaltada pela presidente em entrevista - foi Nelson Jobim, o ex-ministro da Defesa, o que só confirmou a regra das outras execuções.

A sucessão de crises em decorrência da queda em série de ministros é que torna real o risco de a imagem da presidente da República vir a ser contaminada.

Em 2005 a corrupção (o mensalão) pôs à prova a popularidade do ex-presidente Lula e ela balançou: em setembro daquele ano de crescimento em alta e inflação em baixa o número de eleitores que consideravam o governo ruim ou péssimo (32%) superou o dos que o avaliavam como ótimo ou bom (29%).

Desde então Lula recuperou-se e nenhum dos escândalos que se seguiram "pegaram" num presidente curtido numa das piores crises políticas desde a redemocratização, superada apenas pelo impeachment de Fernando Collor de Mello.

Lula deixou o governo com 83% de aprovação; Dilma tem mais de 70% de aprovação, mas é desconhecido seu grau de tolerância às crises.

Ninguém duvida da honra da presidente. O que está à prova é sua decantada excelência administrativa. Se as denúncias são conhecidas e antigas, se o Ministério do Trabalho estava sendo monitorado pelo Palácio do Planalto desde o início do governo, por que deixar a situação se deteriorar até o limite de crise?

Uma recente reportagem do jornal espanhol "El País" reflete com exatidão as expectativas em relação a Dilma Rousseff nas eleições de 2010. A maioria pensava e dizia que ela não passava de uma criação do antecessor, uma gestora simples que precisaria da tutela de seu menor e antecessor para se manter no Poder.

O "El País" destaca que em dez meses de governo Dilma conseguiu o que então parecia impossível: ninguém, dentro ou fora do país, tem a menor dúvida de quem manda no Brasil. Desde a posse, essa é a imagem que a presidente e seus marqueteiros empenham-se em gravar na opinião pública.

Dilma, sem dúvida, imprimiu sua feição pessoal ao governo. Os ministros temem suas cobranças, como deixa claro a ridícula declaração de amor do ministro Lupi feita na Câmara.

O PT, que desconfiava de seu passado pedetista e julgava que poderia mantê-la sob tutela, rendeu-se à sua autoridade. O partido tem saudades do jeito informal de Lula governar, mas afinou nas vezes em que testou os limites de Dilma.

As sucessivas crises no ministério podem jogar esse esforço por terra, no momento em que a presidente se prepara para reformar a equipe, no início de 2012. Há na praça mais de uma versão para a aparente relutância da presidente da República.

A que mais seduz auxiliares próximo da presidente e o PT é a que diz que "chegou a hora de dar um basta na mídia", como se jornais, revistas e televisão não se limitassem a reproduzir investigações - muitas delas feitas sob a chancela do Palácio do Planalto - em curso no governo.

No entorno de Dilma acredita-se que a presidente libertou o gênio da garrafa, na demissão do primeiro ministro à primeira denúncia, e agora tem de voltar a aprisioná-lo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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