A dimensão que vertebrou a disputa política nos últimos 20 anos foi a inclusão social. Mas o petrolão e a Lava Jato alteraram profundamente esse estado de coisas. A escolha sobre quem promoveria melhor a inclusão deu lugar a uma nova disputa em torno de quem pode combater a corrupção e “tudo o que está aí”.
O PT e o PSDB foram os grandes perdedores dessa revolução na estrutura do jogo. Em um primeiro momento, o PT resistiu ao deslocamento do eixo da disputa, desqualificando a Lava Jato e chamando a atenção para o desemprego que gerava, não notando a centralidade que o tema da corrupção assumira.
O PSDB apostou na nova dimensão, mas seu discurso acabou conflitando com o desdobramento da Lava Jato sobre o partido. Isso permitiu a um outsider —Bolsonaro— afirmar-se como o beneficiário inconteste da mudança ocorrida.
Bolsonaro também inseria-se na disputa de uma forma inédita: rechaçando as formas identitárias de inclusão social com base em raça, gênero e minorias. Mobilizando a crise da segurança, conquistou setores conservadores da sociedade. Tais questões eclipsaram na agenda pública as questões macroeconômicas e de inclusão. E como todo populista iliberal seu discurso é marcado por autenticidade.
O PT renasceu das cinzas quando Bolsonaro disparou nas primeiras pesquisas presidenciais: a relação é simbiótica. E foi favorecido pelo apelo mediático de Lula na cadeia e pela estagnação da economia.
Na campanha presidencial escondeu Dilma e com isso ajudou a ocultar Temer. O slogan “Fora, Temer” parecia dirigir-se a um fantasma político, fora do jogo, e a eleição tornou-se assim um plebiscito entre a mudança (Bolsonaro) e o statu quo (os anos do PT).
O PT reagiu deslocando o eixo da disputa política introduzindo uma nova dimensão: o eixo democracia-autoritarismo. O “democrata corrupto” opõe-se agora ao “probo autoritário”. A “ameaça fascista” garante assim competitividade à candidatura Haddad.
No entanto, esse movimento tem tido efetividade muito limitada devido, inter alia, à sua posição em relação à Venezuela e ambivalência em relação ao jogo institucional.
Com um passivo gigantesco que inclui elogios à tortura, seu rival tampouco tem credibilidade e buscará jogar o jogo na dimensão da probidade e na rejeição a “tudo o que está aí”.
(*) Marcus André Melo, professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).
Folha de São Paulo
8 de outubro de 2018
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