Depois da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no sábado, o PT ficou mais próximo da encruzilhada sobre a estratégia do partido nas eleições de outubro. O dilema também divide a opinião de dois cientistas políticos, Carlos Pereira, da FGV Rio, e Antonio Lavareda, consultor e especialista em campanhas eleitorais.
Para Pereira, abre-se uma "janela de oportunidade" para que o partido reavalie seu plano ao Planalto: "Lula precisa definir o nome do PT já. Do contrário, é caminho livre para que o centro e a direita estejam no segundo turno", diz. Nestes campos, destacam-se o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL).
O professor titular da FGV argumenta que quanto mais tarde o anúncio de Lula for feito, maior o risco de uma fragmentação da esquerda. Em sua opinião, a indicação de um Lula vitimizado constrangiria pré-candidatos da esquerda a apoiar o nome escolhido, dada a consternação do momento. "Não vejo o PT apoiando candidato de outro partido. O DNA do PT é de partido majoritário", afirma.
Para Lavareda, em contraste, "a melhor jogada" para o PT é se "encapsular" numa vaga de vice na chapa de Ciro. Com isso, a sigla sairia do foco das forças do antipetismo e poderia se dedicar à tarefa de eleger a maior bancada da Câmara: "Seria uma estratégia para atravessar o deserto".
O consultor afirma que a ideia de o PT abrir mão de candidato próprio "não é estapafúrdia". Compara a situação do PT sem Lula ao do PTB que, sem Getúlio Vargas, depois do suicídio do presidente em 1954, aceitou fazer uma aliança com o PSD de Juscelino Kubitschek, no ano seguinte.
Apesar da urgência, Lavareda vê o PT sem condições emocionais ou políticas de tomar decisão nas próximas semanas: "Era um partido lulocêntrico que, de repente, perde o centro".
Onde está encarcerado, na "sala de Estado Maior" - "uma ironia totalmente desnecessária" do juiz Sergio Moro, diz Lavareda -, Lula não terá condições de articular decisões políticas ou explorar seu potencial de transferência de votos, que, com ele preso, dos 27% se reduziria a um terço, estima: "Se Lula pegasse isso e somasse às intenções de voto do Ciro, entre 9% e 10%, a esquerda já teria um candidato no segundo turno, com uns 25%".
Leia os principais trechos das entrevistas concedidas nos itens abaixo:
(Valor Econômico)
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