Em menos de duas semanas, duas importantes lideranças do PMDB fizeram defesa velada de candidatura própria para a Presidência da República em 2018.
Após sua eleição para a presidência da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirmou em entrevista para a revista Veja que time que não joga não tem torcida e que o PMDB está há muito tempo sem jogar.
Na edição seguinte, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), apoiou a tese e lançou o nome do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, como alternativa. Na avaliação de Pezão, a realização dos Jogos Olímpicos na cidade poderá credenciá-lo como postulante ao cargo.
A eleição do deputado Leonardo Picciani (RJ) como líder da bancada na Câmara mostra que o PMDB do Rio de Janeiro sai na frente da disputa com outros estados.
Picciani foi eleito com 34 votos do partido. Seu adversário, Lúcio Vieira Lima (BA), teve 33. O resultado foi uma nova vitória de Eduardo Cunha.
Eduardo Cunha quer assumir papel de destaque na condução da candidatura própria.
Para tanto, está construindo e fortalecendo pontes com importantes setores da sociedade. Nesta semana, por exemplo, ele terá reuniões com representantes do Poder Judiciário, de centrais sindicais e de empresários. Quer colher informações sobre a pauta legislativa de interesse desses setores.
No programa do partido que vai ao ar na TV no dia 26, não será mostrada nenhuma vinculação com o PT nem com o governo. A mensagem que o partido pretende passar é a de que o PMDB apoiará o que for bom para o país, e não para o governo. A mensagem está sendo entendida pelo PT como a intenção de distanciamento e construção de agenda própria.
Para piorar o clima, a imprensa informa que Dilma e Michel Temer não estão se falando com regularidade. E que, apesar das imensas dificuldades políticas, a experiência de Temer parece não interessar à presidente.
Preocupados em preservar o tamanho da legenda, seus líderes também tentam esvaziar a criação de novas legendas. O ministro das Cidades e fundador do PSD, Gilberto Kassab, quer recriar o PL para, depois, fundi-lo ao PSB.
Vendo nessa iniciativa um risco para a legenda, o PMDB apresentará ao Supremo Tribunal Federal, nesta semana, Ação Direta de Inconstitucionalidade contra o atual modelo de assinaturas exigidas pela Justiça Eleitoral para a criação de um novo partido (490 mil ou 0,5% dos votos válidos para a eleição mais recente para a Câmara dos Deputados).
Como há muito tempo não se via, o partido começa realmente a trabalhar em um projeto de poder capaz de resgatá-lo da condição de coadjuvante, papel que desempenhou nos últimos 20 anos. Tal comportamento contribui para acirrar ainda mais os ânimos do seu principal aliado no plano federal, o PT.
Por outro lado, ao mesmo tempo em que acena com independência, o partido se mostra preocupado com a governabilidade. Suas lideranças repetem o mantra de que o impeachment de Dilma não terá apoio do partido.
O fato novo é a nova postura do PMDB e que reflete na nova postura do comando da Câmara e do Senado em relação ao governo. Ainda que tardiamente, o PMDB descobriu que poderá mandar muito no governo muito além de sua presença no ministério de Dilma.
No âmbito da Reforma Política, o partido busca construir sua independência dando força ao debate de propostas na Câmara – a PEC Vacarezza – e no Senado com um conjunto de propostas. Além de fazer eventos e pesquisas de opinião com a militância sobre o tema.
De fato, o PMDB demorou a tomar esta atitude de maior independência. Pois desde a campanha eleitoral de 2011, o partido foi tratado pelo PT como um aliado menor que seria cooptado com meia-dúzia de cargos.
Após anos de conflito, fica evidente que o PMDB deve marchar “solo” ou com novos aliados em 2018. Paradoxalmente, nunca o governo do PT precisou tanto do PMDB como agora.
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