sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Das velhas e novas vivandeiras (Roberto Beling)

A velha UDN (União Democrática Nacional) representava uma classe média ressentida, rançosa e golpista. Verdadeira vivandeira dos quartéis, a cada derrota eleitoral batia na porta dos militares pedindo o golpe do estado como forma de reverter a livre expressão da vontade popular. 
Seu principal tribuno perpetrou a máxima sobre Juscelino Kubtschek: "não pode ser candidato; se candidato, não pode ser eleito; se eleito, não pode tomar posse; se tomar posse, não pode governar (se não corresponde ao exato teor, o espírito da coisa foi mais ou menos por aí).
 Juscelino foi eleito, mas a UDN civil e militar partiu para o golpe para impedir a posse, através da manobra da "licença" do então vice-presidente,  Café Filho, para "tratamento de saúde". A manobra foi abortada e derrotada com o "11 de Novembro", contra-golpe ou o "golpe contra o golpe", liderado pelo General Henrique Lott, então Ministro da Guerra, que derrubou o então Presidente da Câmara, Carlos Luz, que exercia interinamente a Presidência da República, e garantiu a posse do presidente eleito.
Juscelino, o "presidente bossanova", não foi apenas o protagonista 
do processo de modernização e desenvolvimento da nossa economia, mas um estadista que buscou governar sob o signo da conciliação e da pacificação. Mesmo assim, sofreu duas tentativas de golpe, através das aventuras brancaleones de Aragarças e Jacareacanga. Concluiu seu governo e transmitiu o cargo a seu sucessor, eleito pela oposição. Não fez terrorismo político ou verbal, não ameaçou, não tentou nenhum golpe ou manobrou contra a posse do eleito.
Agora, parece que o espírito da velha UDN retorna em novas roupagens com os aliados do Planalto. A beira de uma inesperada derrota e de uma crise de nervos (como diria Almodóvar: mulheres histéricas a beira de um ataque de nervos), eis que as novas vivandeiras e carpideiras das crises, agora sem os quartéis como retaguarda, assumem o discurso lacerdista e tentam atemorizar e chantagear o eleitorado no seu direito de escolha.
É o que posso depreender ao abrir os jornais de hoje e me deparar com as declarações do governador do Ceará, Cid Gomes, que em entrevista ao jornal Diário do Nordeste, disse que Marina Silva não vai concluir o mandato se for eleita: "Eu não dou dois anos de governo para Marina. Ela será deposta, pode escrever."
Só faltou esclarecer quem a deporá e quem será o Lacerda da vez. (no meu facebook, em 03/09/14)

Nenhum comentário:

Postar um comentário