Lula é um deseducador por excelência. Na semana que passou, em encontro da juventude do PT, ele “lecionou” para os jovens petistas e filopetistas proferindo a seguinte frase: "O ideal de um partido é que ele pudesse ganhar a Presidência da República, 27 governadores, 81 senadores e 513 deputados sem se aliar a ninguém. Mas, muitas vezes, temos que aceitar o resultado e construir a governabilidade". Enfatizo que ele estava discursando para a juventude, aquele setor da sociedade que, no Brasil, costumava-se dizer, que era o “futuro da Nação”.
Há problemas graves na frase de Lula. À juventude se pede geralmente que ela busque a utopia, busque o impossível, desafie, mude. E frequentemente esses anseios são também vocalizados juntamente com a noção de “ideal”; em política seria um “projeto ideal”. Na frase, Lula revela seu ideal: o PT, como qualquer outro partido (se supõe) deveria governar de maneira exclusiva, única e integral o país. O ideal de Lula é um desejo totalitário. Lula prega a utopia do totalitarismo aos seus jovens. Não os “ensina” ou os “educa” politicamente para uma realidade mais complexa, necessariamente mais plural, que deve ter na tolerância e na convivência de diferentes a perspectiva do seu “ideal”. A realidade diversa e complexa deve ceder, na política, a uma única parte, a um único partido.
Contra uma sociedade complexa e diferenciada, Lula apela aos jovens petistas que eles lutem pela conquista da unanimidade. O ideal de Lula seria aquilo que alguma vez Nelson Rodrigues identificou como burrice, afirmando que “toda unanimidade é burra”. Se o argumento vale, pode-se dizer que Lula quer emburrecer a juventude petista, com sua visão totalitária.
No entanto, ele sabe que qualquer partido político deve e deverá governar o Brasil com alianças. Mas o PT nunca entendeu sequer superficialmente essa questão e já deu vivas demonstrações de que lida com ela apenas a partir de critérios de máfia. Para o PT e obviamente para Lula, aliar-se a alguém é submeter o aliado, conquistar súditos e não parceiros. Lula sabe e deseduca sua militância dizendo, no fundo, que a aliança é sempre um desprazer, uma contingência, um mal que se deve suportar até que se possa romper com ela. Lula parece querer formar mais mafiosos do que jovens políticos de vocação democrática.
Um argumento combina com o outro: o totalitarismo como visão de partido único criou no petismo e em Lula, em particular, a imagem e o autoengano de serem o “partido da verdade”, olhando os outros com desconfiança, senão com repulsa, tendo, no fundo que “suporta-los”, já que ainda não tem todo o poder em suas mãos.
Gramsci dizia que Maquiavel havia escrito O Príncipe para aqueles que não sabiam e não lidavam com a política aprenderem como ela realmente funciona. Havia no sábio fiorentino uma intenção didática e pedagógica. Lula deve achar que a política é a imposição da sua verdade, de preferência de maneira totalitária. É isso que ele quer ensinar aos seus jovens. Deseduca a juventude petista para a convivência democrática.
(*) Alberto Aggio, historiador, professor da Unesp e presidente da Fundação Astrojildo Pereira
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