segunda-feira, 26 de maio de 2014

O jogo entre futebol e eleição (Alberto Almeida)



• O que tem impacto no voto é a avaliação do governo; o resultado da Copa não interfere

• Em pesquisa do Instituto Análise, quase metade dos brasileiros diz que a Copa é boa para o Brasil


Em 1994, o Brasil foi campeão na Copa do Mundo, e o governo venceu as eleições. Só nesse ano os resultado de Copa e eleição foram nessa direção: o governo teria sido beneficiado pela vitória no futebol. Em todas as copas subsequentes, 1998, 2002, 2006 e 2010, quando o Brasil ganhou, o governo perdeu; ou quando o Brasil perdeu; o governo ganhou. A conclusão é simples: o resultado da Copa não influencia o resultado da eleição. Pelo menos quando a Copa não é no Brasil.

A diferença entre sediar o torneio ou não é bem clara e simples: o país-sede precisa gastar recursos públicos para que o evento ocorra, gastar muito com reforma e construção de estádios. Uma parte significativa do eleitorado não apoia este gasto. Pode-se dizer que metade acha que a transferência de recursos públicos de Saúde e Educação para os estádios não deveria ter acontecido.

Em pesquisa nacional do Instituto Análise, 49% dos brasileiros afirmam que a Copa é boa para o Brasil porque traz investimentos e gera empregos, enquanto 46% consideram que ela é ruim para o Brasil porque o dinheiro gasto com os estádios deveria ser usado em Saúde e Educação.

A maioria das pessoas pode vir a pensar que os que acham a Copa ruim para o Brasil votam mais na oposição, enquanto os que acham a Copa boa para o Brasil votam no governo. Não é verdade; isso não acontece: a divisão do eleitorado entre esses dois grupos não tem impacto algum sobre o voto no governo ou na oposição. Na realidade, o que tem impacto no voto é a avaliação do governo: quem avalia ótimo e bom tem alta probabilidade de votar no governo, ao passo que quem avalia ruim e péssimo muito provavelmente votará na oposição.

O resultado da Copa não tem impacto algum sobre a avaliação do governo. O que tem impacto é a situação da economia, a sensação que o eleitor tem acerca de seu poder de compra. Se a inflação de alimentos aumenta, o eleitor sente no bolso e passa a avaliar o governo de uma maneira mais negativa. Se a inflação cai, ocorre o oposto. Se o desemprego cresce, aumenta o medo de perder o emprego, e o eleitor passa a ver o governo de uma maneira mais negativa. Porém, se a oferta de empregos aumenta, o eleitor passa a avaliar o governo de uma forma mais positiva. Diante disso, resultados de jogos de futebol não têm relevância.

Há, porém, um risco para o governo. Uma eliminação precoce da Seleção Brasileira numa Copa em casa, onde metade do eleitorado acha que o gasto com os estádios deveria ter privilegiado Saúde e Segurança Pública, por exemplo, pode servir de combustível para protestos, porque a sensação será a de que gastamos muito para realizar uma festa para os estrangeiros. Isto poderá resultar em protestos, e, a exemplo do que ocorreu em 2013, a avaliação do governo pode vir a piorar e afetar as intenções de voto em Dilma.

Alberto Almeida é cientista político

(O Globo)

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