Recomendo apertar os cintos em 2018. Será um ano de incertezas e turbulências. Vivemos a era do imprevisto. O ano que se aproxima será um representante legítimo desses tempos de brumas densas. Nos Estados Unidos, o presidente Trump pode ser surpreendido com o avanço dos Democratas e perder a maioria. Entraria na famosa fase do “governo dividido”, mas com complicações, pois teria um presidente republicano fora da curva e maioria democrata disposta a tirá-lo da Casa Branca. Situação que afetaria a economia americana e rebateria na economia global e na brasileira.
Aqui, o presidente Temer, pilotando um governo muito ruim, sonha que a economia o salvará da impopularidade. Nesse cenário de Poliana, imagina que a maioria aprova seu governo em silêncio, constrangida por essa conversa de corrupção pra lá e pra cá. Isso apesar dos 97% de reprovação, apurados pelo Barômetro Político Estadão-IPSOS, da impopularidade de 74%, medida pelos que consideram seu governo ruim ou péssimo, ou dos 88% de desaprovação à maneira como governa. É improvável que a corrupção seja esquecida na campanha e nas urnas. Ou que o governo tenha bom desempenho eleitoral.
A incerteza em 2018 não ficará por conta de Temer, mas de Lula. É sua presença ou ausência que definirá o cenário eleitoral. Se entrar na disputa, clareia o quadro. Mas, se for para o segundo turno, o que é muito provável, obscurece de vez o panorama da governabilidade. É certo que sua candidatura e sua posse serão objeto de contestação judicial, principalmente se o TRF-4 mantiver a sentença do juiz Sérgio Moro. Sua candidatura estrutura a competição e é provável que leve à repetição da polarização usual entre PT e PSDB. Sem Lula, a competição se desestrutura. Nenhum outro candidato tem essa capacidade de separar com clareza os campos eleitorais. Nesse caso, aumentam as chances de um segundo turno entre dois candidatos que somariam menos de 50% dos votos. Isso só aconteceu em 1989, quando Collor e Lula somaram 47,6%. Em 2010, os dois primeiros somaram 80% e, em 2014, 75%.
No Congresso, pode-se esperar muita rotatividade e fragmentação partidária. Principalmente na Câmara. Mas as oligarquias serão preservadas. São muitas as barreiras à entrada em nossas leis eleitorais. Elas discriminam os novatos e evitam a renovação.
Fonte: O Globo (02/01/18)
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