domingo, 2 de julho de 2017

A bomba-relógio social (José Roberto de Toledo)

Para seu diretor-geral, a pesquisa Datafolha mostra que o brasileiro nunca esteve tão bravo nem teve tanto medo. É fruto dos sucessivos escândalos de corrupção (que multiplicaram a vergonha de ser brasileiro), da deterioração da situação econômica e do descrédito recorde nas instituições. Mauro Paulino compara o cenário atual ao anterior à onda nacional de protestos de quatro anos atrás. “Se a economia piorar, como aconteceu antes de junho de 2013, vai ter rua”, vaticina.
Sob Temer, a vergonha nacional bateu recordes de FHC, Lula e Dilma. Pela primeira vez, há um empate técnico entre envergonhados (47%) e orgulhosos de serem brasileiros (50%). Tomar conhecimento de escândalos como o da JBS e avaliar mal o governo Temer se correlacionam com aumento da vergonha, mas ela é especialmente alta entre dois segmentos: eleitores de Bolsonaro e entre quem não pretende votar para presidente.
À vergonha recorde e aos dois terços de brasileiros que não confiam mais no Congresso ou na Presidência da República, Paulino acrescenta dois outros fatores-chave: rejeição à figura do presidente como nos governos que caíram de Dilma e Collor, e a desilusão e falta de perspectiva para jovens devido à lacuna ética generalizada. “É uma bomba-relógio social”, define.
A seguir, preciosidades encontradas nas tabelas da pesquisa nacional Datafolha, que só foram divulgadas esta semana:
1) A taxa de brasileiros que se declaram heterossexuais foi de 93% para 90% (mais pessoas se recusaram a responder, chegando a 6%). Os restantes 4% se autodeclararam homossexuais (2%) ou bissexuais (2%). O maior índice de heterossexualidade declarada aparece entre eleitores de Bolsonaro (97%). Já as taxas recordes de homossexualidade e bissexualidade se encontram entre quem declara voto em Luciana Genro (PSOL): 16% e 10%.
2) Simpatizantes do PSDB dão nota média 4,3 a Temer. É mais alta que a de todos os outros partidários, inclusive peemedebistas. No geral, os brasileiros dão nota 2,7 ao governo. Entre tucanos, 28% acham Temer nota 7 ou superior – é mais do que o dobro da taxa de quem dá notas como essas no resto da população. Para azar do presidente, só 5% declaram hoje preferência pelo PSDB. O partido perde popularidade junto com o governo.
3) É o oposto do que acontece com a candidatura de Lula. A maior taxa de rejeição a Temer aparece justamente entre quem diz que votaria no petista se a eleição presidencial fosse hoje: 79% de ruim e péssimo. Isso significa que Lula é quem mais tem a ganhar com a piora da avaliação do governo. Obviamente, existe um limite para esse movimento. Há cada vez menos eleitores que podem sair do “regular” (23%) para o “ruim/péssimo” (69%).
4) Quanto mais o PSDB ficar no muro temerário, mais difícil será para os presidenciáveis do partido melhorarem seus índices de intenção de voto. João Doria e, especialmente, Geraldo Alckmin têm algumas das mais baixas taxas de conversão dos eleitores que avaliam o governo federal como ruim ou péssimo: 7% e 5%, respectivamente. É metade (Doria) ou um terço (Alckmin) do que Marina e Bolsonaro conseguem converter. Temer depena os tucanos.
5) Se a eleição presidencial fosse hoje e Lula não pudesse ser candidato, Marina seria a maior beneficiada. A presidenciável da Rede herdaria 1 de cada 4 órfãos do petista, quase duas vezes mais do que Ciro Gomes, o segundo maior potencial beneficiado. Mas esses números podem mudar muito, em função de a quem Lula viesse a declarar apoio, é claro. Hoje, um terço dos lulistas dizem que anulariam ou votariam em branco sem ele na urna.
Lembrete: tudo isso muda se a “bomba-relógio social” explodir.
Fonte: O Estado de São Paulo (29/06/17)

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