Há quem diga que populismo não é uma doutrina, mas uma síndrome. Carece de elaboração orgânica e sistemática; as definições se ressentem de ambiguidade conceitual; a divisão arbitrária ocorre entre povo e “não-povo” (Ludovico Incisa, Dicionário de Política, Bobbio, Matteucci, Pasquino. Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1986, pags. 980/2).
Trata-se de um fenômeno recorrente na história e objeto de estudo permanente das ciências sociais. Atualmente, desperta especial atenção por conta da mudança de endereço e de figurino. Com habitual maestria, o economista Sergio Buarque constata: “O nacionalismo e o populismo se deslocaram dos antigos países do terceiro mundo para as nações ricas e os antigos impérios coloniais”. E ao se alojar nos EUA, xenófobo e anacrônico, “faz tremer a ordem mundial” (Revista Será?, 11//11/16, revistasera.info).
Por sua vez, o cientista político mexicano Enrique Krauze (coincidência), no ensaio os “Os Dez Mandamentos do Populismo” (aqui renomeado “Os Dez(mandos) do Populismo”), fornece os seguintes traços do fenômeno:
I. O populismo exalta o líder carismático, o homem providencial na perspectiva Weberiana.
II. O populista usa, abusa e se apropria da palavra (todos são verborrágicos e demagogos, amparados pelo marketing do embuste).
III. O populista fabrica a verdade e odeia a liberdade de opinião.
IV. O populista usa o erário como recurso privado, promete soluções simples, rápidas e, invariavelmente, desastrosas para economia.
V. O populista prega e pratica a mágica distributivista, dando benefícios e cobrando obediência.
VI. O populista é maniqueísta e dissemina o ódio conveniente entre “eles” e “nós”.
VII. O populista apela, mobiliza e inflama o poder das massas no teatro da “praça pública”.
VIII. O populista fustiga o “inimigo externo ou interno” como bode expiatório para os fracassos (todo populista é onisciente e infalível).
IX. O populista despreza a ordem legal, incutindo nas pessoas profunda desconfiança nas regras feitas pelos homens.
X. O populista mina, domina, ameaça e elimina as instituições, os mecanismos de pesos e contrapesos da democracia liberal por considerá-los oligárquicos e contrários à “vontade popular”.
Finalmente, cabe atentar para o fato de que o populismo nasce, renasce e viceja à margem dos canais institucionais vigentes. O “povo” é transformado em mito cuja força regeneradora, fascinante e obscura, imotivada e funcional está “latente mesmo na sociedade mais articulada, complexa, pluralista, pronta a materializar-se, de um instante para outro, nos momentos de crise”.
Fonte: Blog do Noblat (27/02/17)
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