terça-feira, 19 de julho de 2016

O pai dos turcos (por Marino Boeira)

Parece que está havendo muita pressa em apresentar a derrota do golpe militar na Turquia como uma vitória da democracia e da população civil contra os militares, pensando talvez no que acontece no Brasil. Esquecem os que assim pensam, que os militares turcos representam o segmento mais moderno e democrático da Turquia em oposição à velha herança islâmica do califado turco, enquanto o atual presidente, Erdogan, está aliado aos segmentos islâmicos religiosos.
Só para recordar foi Mustafá Kemal Atatürk, como comandante do Exército e Presidente da Turquia a partir de 1923, quem comandou o processo de democratização e secularização do país e por isso é chamado O Pai dos Turcos.
O legado mais duradouro de Kemal foi a sua campanha pela secularização e a ocidentalização que ele impôs à nação turca. O califado, antiga posição de liderança nominal na fé islâmica, detida pelos sultões otomanos), foi abolido em março de 1924, assim como o título de paxá . Os madraçais foram fechadas, as leis da charia foram substituídas por um código de lei baseado no da Suíça, com influências do código penal italiano e do código comercial alemão foram também adotados.
Num gesto particularmente marcante, Kemal passou a considerar o fez (o chapéu típico otomano) como um símbolo de feudalismo e baniu-o. Atatürk usava vestimentas em estilo ocidental, insistindo para que todos os turcos fizessem o mesmo. O véu para as mulheres foi banido, e elas foram encorajadas a usar vestidos ocidentais e a participar no mercado de trabalho. Em 1928, o governo decretou que o alfabeto árabe deveria ser substituído por um alfabeto latino modificado, que era mais fácil de aprender e de ensinar e que tornava a publicação mais fácil. Todos os cidadãos desde os 6 aos 40 anos de idade foram obrigados a frequentar a escola e aprender o novo alfabeto. A língua turca foi “purificada” pela remoção de muitas palavras do árabe e do persa e substituída por novas palavras turcas. Desde então, a língua árabe foi usada somente para assuntos religiosos (islâmicos), pois o Alcorão é escrito em árabe.
(*) Marino Boeira é professor universitário.
Fonte: Sul21 (19/07/16)

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