domingo, 15 de dezembro de 2013

Construindo a Coligação Democrática no ES (Roberto Beling)

(contribuindo para o debate interno da Rede e a discussão na Plenária dessa quarta)

A Coligação Democrática, aliança programática entre a Rede e o PSB, bem como a constituição inicial da chapa Eduardo Campos e Marina em 2014, impactou fortemente mentes e corações do conjunto dos ativistas Redistas. Perplexidade em um primeiro momento, depois um conjunto complexo de reações e posicionamentos. Se isso se dá no plano nacional, mais diferenciados e impactantes são os desdobramento ao nível dos estados e das realidades locais.
Como já disse, o ponto central é entender que a Coligação é aliança conjuntural e programática entre duas forças distintas, que se hoje juntas estão amanhã poderão não estar. Ou seja, são dois partidos diferentes, com suas histórias e identidades próprias, projetos e formulações ideológicas distintas. 
Como lembrou o companheiro Pedro Ivo na carta que encaminhou a militância, logo após o 5 de outubro, a coligação nacional não se reproduz automaticamente nos estados, não determina ou pré-determina as alianças em nível local. 
Dessa forma, a Coligação não é uma camisa-de-força ou um entubamento político das instâncias locais. Cada situação deve ser discutida em nível de suas peculiaridades e especificidades. 
Portanto, a Rede não está sendo incorporada ou diluída no PSB. É uma relação de equivalência entre dois entes políticos distintos buscando construir suas aproximações. Como então estabelecer e balizar as relações entre Rede e PSB no Espírito Santo, onde essa relação assume um grau maior de complexidade dado o fato de o PSB ser o partido governante no estado e ter um candidato pleiteando a reeleição ao governo? 
O primeiro ponto é entender que a relação é de partido para partido. E sendo uma relação de partido para partido, deve ser uma interlocução conduzida pelas suas instâncias maiores, ou seja, uma interlocução conduzida pelo GT/ES (como instância de representação da REDE) e a Executiva Estadual do PSB. 
Não podemos, enquanto Rede, ficar a reboque ou subordinado a protagonismos individuais ou ao diretório municipal de Vitória, por exemplo. E o exemplo não é gratuito, dado que em determinado momento o diretório de Vitória tentou se colocar na condição ou em um papel de liderança e condução nessa relação, assumindo o protagonismo de convocar reuniões ampliadas entre PSB&Rede, como se dirigente fosse do processo.
Ora, se o diretório de Vitória se coloca na posição de chamar reuniões e definir pautas, por que os diretórios de Serra ou Vila Velha não poderiam fazer a mesma coisa? Ou esse processo de fóruns ou espaços comuns de discussão das militâncias deveria ser conduzido pelas instâncias maiores dos dois partidos?
Como dito: em cada estado a Coligação terá que ser construída, respeitando as peculiaridades regionais. O mesmo podemos dizer em relação aos municipios. É uma montagem cuidadosa que demanda tempo e paciência. Temos que construir a Coligação Democrática no Espírito Santo, mas respeitando determinadas especificidades da política estadual, peculiaridades e arranjos das políticas locais e a costura de entendimento de política pública por política pública.
E como já dito também, no Espírito Santo, além da coligação temos a peculiaridade da candidatura de Casagrande, ou seja, um estado em que o PSB está no governo e tem um candidato a governador.
Como dizia o ex-deputado José Genoíno, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Cada coisa discutida no seu tempo e lugar. 
Por exemplo,  poderia se pensar que apoiar ou se coligar com o PSB e apoiar Casagrande seriam coisas umbilicalmente ligadas (e esse foi o entendimento manifesto por companheiros do PSB na primeira vez que se sentou juntos), mas as coisas não são tão simples como parece. 
E  por uma razão simples: o palanque Eduardo/Marina é o palanque da Rede/ES e, certamente, é o palanque do PSB/ES. Até aí as coisas são simples e esquemáticas. Mas quando chegamos a Casagrande as coisas complicam: até o momento, o palanque de Casagrande não é o palanque de Eduardo/Marina e no contexto da política do Estado a aliança preferencial e prioritária  de Casagrande é com o PT e o PMDB.
O nosso compromisso é com a efetivação da Coligação Democrática, expressa no palanque Eduardo/Marina. É nesse projeto que a Rede/ES está comprometida até a medula, e nesse certamente também está o PSB estadual. Mas, em função das peculiaridades da política regional, esse não é o projeto de Casagrande, nem o palanque de Casagrande será o palanque de Eduardo e Marina. Em nome da costura dos arranjos da política estadual,  o discurso de Casagrande é o discurso da "neutralidade" face aos palanques nacionais. O discurso da "neutralidade" significa o não compromisso com o palanque da Coligação Democrática, e, nesse contexto,  é na prática favorecer o palanque de Dilma Roussef.  
E no desdobramento, como um segundo ponto: Casagrande não busca a demarcação de campos e a viabilização de uma alternativa a polarização PT&PSDB no plano regional, mas busca obsessivamente a construção de uma política de "UNANIMIDADE", perseguindo a preservação de um sistema de poder e arranjo político construído a partir da era Hartung. 
A busca da chamada "unanimidade" é a busca da construção de uma coalização em que cabem todos e tudo em troca das benesses do poder e do loteamento do aparelho governamental  acima de todas as considerações. Projeto de 'Unanimidade" que tem no limite a exclusão do povo do processo decisório, transformando- se a eleição em um "arranjo de gabinete", cabendo ao eleitor apenas a função de homologar a decisão das elites.
Sintetizando esses dois pontos: nosso projeto não é o do palanque da "neutralidade", mas sim o engajamento claro e insofismável no palanque de Eduardo e Marina. Nosso projeto é de alianças e coligações programáticas e não o jogo espúrio das alianças pragmáticas expressa na busca da tal "unanimidade". Nosso compromisso é com a disputa política e o enfrentamento de propostas e projetos que expressem os projetos diferenciados na sociedade e não a submissão a uma concepção autoritária, expressa na formulação e prática do discurso da "unanimidade".
Por isso uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Discutir nossa relação com o PSB no ES é uma coisa, discutir o apoio a candidatura Casagrande é outra coisa. Por isso, como dito e redito: um costura complexa e um jogo de paciência que demanda tempo e disposição para o diálogo e não mera submissão a imperativos esquemáticos ou oportunistas.  
E, como desdobramento,  dois outros pontos para finalizar: a relação em nível de política local (os municípios) e a questão das candidaturas de Redistas em 2014.
A relação da Rede e PSB em nível local é um jogo complexo e delicado. Não temos dúvida que na maioria dos municípios da Grande Vitória será possível uma interlocução e a criação de fóruns comuns de discussão e compartilhamento de políticas. Mas temos que reconhecer e respeitar que temos inúmeros  municípios   em que há dissonância explícita entre os ativistas da Rede e as forças que representam o PSB. Temos problemas em São Mateus, Santa Teresa, Fundão, Santa Maria de Jetibá e Viana para ficar apenas em alguns exemplos. Como trabalhar essas dissonâncias? Como essas incompatibilidades impactam a questão das candidaturas da Rede? 
Em um primeiro movimento, logo após o anúncio do apoio de Marina a Eduardo e a formação da Coligação Democrática, e nos prazos definidos pela legislação para a formalização de futuras candidaturas,  os ativistas buscaram processar as filiações junto ao PSB/ES. Havia a expectativa de que as candidaturas da Rede estariam contidas nos marcos legais do PSB e no âmbito da Coligação Democrática. Movimento legítimo dos companheiros que fizeram essa opção e buscaram abrigo para seus projetos futuros no PSB. 
Mas o que foi possível para um grupo de companheiros Redistas, não foi possível para um significativo grupo de outros ativistas e Marineiros.  Razões de ordem local ou, inclusive, razões de determinados segmentos relacionadas  políticas  do governo Casagrande (basta ver o desconforto dos companheiros ligados a causa ambiental à condução do governo nesse quesito)  levaram  muitos companheiros a não acompanhar esse movimento de filiação ao PSB. Muitos companheiros fizeram a opção de permanecerem nas suas antigas legendas ou a buscar abrigo em outras que não apresentassem os óbices de interlocução que encontravam nas instâncias locais do PSB.  
Dessa forma, temos companheiros que mantendo sua definição de Redistas fizeram a opção por partidos como o PPS, PHS, PSDB, PV e outros. Essa é uma realidade que se coloca e que tem de ser respeitada quando se discute a questão da Coligação Democrática no ES. Ou seja, a Coligação significa uma relação preferencial com o PSB, mas que não esgota ou restringe as opções partidárias dos redistas  do ES.
E isso impacta a questão das candidaturas da Rede em 2014 ou afeta a forma  como devemos tratar a questão das candidaturas de redistas e candidaturas que serão consideradas como da Rede. Como já dito e desdobrado nesse aspecto, em alguns municípios, há uma absoluta impossibilidade de construirmos candidaturas da Rede dentro das instâncias orgânicas do PSB ou aliadas aos grupos que controlam os diretórios nesses municípios. Esses companheiros fizeram a opção de permanecerem em suas antigas legendas ou buscaram alternativas em outras legendas.  
Assim, as candidaturas da Rede não serão apenas aquelas que se apresentarão  sob o abrigo da legenda do PSB, mas estarão distribuídas em um arco de diferentes legendas. Teremos companheiros que pleitearão a sua condição de candidatos redistas como candidatos pelo PPS, PHS, PSDB, PSC e  PV.         
Dito de outra forma, a construção da Coligação Democrática no Espírito Santo, não significará  o monopólio do PSB quanto as filiações e candidaturas da Rede. Como forma de respeitar as opções dos companheiros, ditadas por fatores relacionadas as circunstâncias da política local, teremos candidatos da Rede por um arco grande de diferentes  partidos.
Desse quadro complexo podemos concluir que para a Rede/ES a coligação com o PSB é preferencial, mas não nos subordina ao projeto do PSB que é da construção do palanque de Eduardo Campos, mas é também o projeto de Casagrande que não representa necessariamente o projeto e o palanque da Coligação Democrática no ES. Como dito, estamos comprometidos com o palanque de Eduardo/Marina. O discurso de Casagrande é o da "neutralidade" e da priorização da aliança com o PT, nosso adversário no plano regional e nacional. Em determinados municípios, circunstâncias da política local impedem a relação entre Rede e PSB, levando   a que projetos políticos, inclusive aqueles traduzidos em possíveis candidaturas, se processem no âmbito e nos quadros de outros partidos o que cria uma pluralidade no que diz respeito as candidaturas da Rede/ES.
Não querendo ter a última palavra no processo, mas querendo contribuir para esse debate entre os Redistas Capixabas.

Um comentário:

  1. Entendo que a posição do PSB será a posição do partido do governador do Estado em reeleição e embalado por ações eleitoreiras em todo o território capixaba para agregar a maior parte das forças políticas, fazendo repetir o projeto do governo de um homem só, agora encarnado na pessoa do Renato Casagrande.
    Um segundo mandato com tal arranjo político-eleitoral permitirá ao governador livrar-se do "carimbo" do governo anterior do qual saiu candidato sem, no entanto, ter conseguido imprimir sua marca.
    Assim, sob a perspectiva da campanha eleitoral de fato (objetivo principal da Coligação PSB/Rede), considero que o PSB-ES não cederá espaço em sua campanha para posições dúbias e vacilantes que apoiem Campos/Marina no plano nacional, mas que ataquem o seu candidato à reeleição e peçam votos para candidatos adversários ao governo estadual. Seria querer muito mais que a Coligação Democrática indica; seria desqualificar os antagonismos cristalizados e a própria concorrência por votos que é a eleição.
    Penso que a única posição dúbia - ou neutra, como quiserem - permitida pelo PSB/PT/REDE no Espírito Santo no primeiro turno será a do seu candidato a governador que, em última análise, vai repetir a mesma estratégia do candidato Paulo Hartung na eleição de Dilma em 2010.
    Contudo, se candidato do PSDB ao governo estadual for mesmo o Sr. PH, sua posição enfática pela reeleição de Dilma forçará o próprio RC a abandonar sua neutralidade em favor da reeleição da Presidente, sob pena de, não o fazendo, perder votos para seu adversário e esvaziar seu leque de apoios num eventual segundo turno. Em consequência, o saldo mais esdrúxulo do quadro eleitoral que se avizinha será o abandono do PSB das candidaturas não alinhadas ao discurso da unanimidade (#REDE, PT, PPS, etc) à sua própria sorte, fechando o espaço para candidatos assim identificados, em benefício da reeleição de Casagrande.

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