sábado, 21 de abril de 2012
RADICAIS LIVRES (Juca Magalhães)
Uma das minhas máximas prediletas vem do escritor Gore Vidal: “Nunca perca uma oportunidade de fazer sexo e aparecer na televisão”. Infelizmente por esses dias, pela primeira vez, descobri na pele porque é que toda regra tem exceção...
Não sei por que a gente desenvolve certas implicâncias e antipatias como é essa que eu tenho com o cantor Roberto Carlos, pintou no início da adolescência e perdura até hoje. - A implicância e não a adolescência - Não gosto da voz, da cara de Mané bem sucedido, do fato dele ter defendido a censura na época da ditadura enquanto cantava Amada Amante, os lençóis da cama e os botões da blusa... E qualquer um que conhece um pouquinho de Rock Brasil sabe que a maioria dos adeptos meio-radicais, mezzo-calabreza pensa como eu.
Rolavam os preparativos para o lançamento do livro Rockrise – A História de Uma Cheração que Fumou Bagulho no Espírito Santo, do Zé Roberto, quando toca o telefone. Era uma produtora do Alive 2, quero dizer, de um TeleJornal que passa na hora do almoço perguntando se eu poderia participar de uma matéria sobre o lançamento e que haveria uma homenagem a Roberto Carlos. (?) Sim, eu também não entendi nada. Não fazia a menor idéia que estávamos no dia do aniversário do “Rei” e, por ser Dia do Índio também, resolveram configurar, digamos assim, um programa silvícola completo.
A moça falava empolgada sobre a idéia, explicava que o imitador oficial do Rei já estava sei-lá-onde para a festa – ou seja: eu estava sendo convidado para substituir um cover do cara, o que soava pior ainda. Comecei a escorregar do jeito mais educado que consegui, disse que já tinha compromisso no horário, mas a moça continuou insistindo: argumentou que Alexandre Lima participaria, tinha topado se vestir de branco (olha que legal!) e até indicado a mim e ao Fabio Boi também (!)
Nada contra meu grande amigo Alexandre vestido de branco, de rosa bebê ou até de Carmem Miranda, eu é que na ia pagar o mico! Parecia coisa do Balanço Geral. (Falando nisso, depois Alexandre me contou que a parada ia acontecer na Praça Costa Pereira e acabou rolando no Shopping Vitória por causa da chuva) Pra encurtar, resolvi abrir o jogo: falei que não gostava de Roberto Carlos e não conhecia nada dele. Nunca que ia rolar de eu ficar “dando uma de que” e ainda por cima homenagear! Nem se fosse rolar muita grana debaixo dos caracóis dos meus pentelhos!
Antes de desligar desanimada com minha desfeita teimosa, a moça pediu e eu indiquei a participação de outro amigo, o Marcelo Ribeiro, músico bem mais competente, antenado e eclético do que eu. Dei um último conselho como fora o Zé Bunitinho: Garota, você pode até ligar para o Fabio (Boi), mas eu vou logo te avisando de que com ele o buraco é mais embaixo. De madrugada, gravando entrevista na sede da Gazeta contei a história para o Zé Roberto que falou incrédulo: “Eu hein Juca? Isso só pode ser pegadinha”.
Na hora do almoço lembrei da reportagem – embora preferisse esquecer – e corri pra Tv. Lá estavam Alexandre Lima e Marcelo Ribeiro “homenageando” o Rei, ambos com aquela expressão solidária de “tô na roubada, mas tô com diniguidade”. A produção organizou uma fila de “populares” para soltar a voz nas canções do Roberto; acaba que não achei ruim, só ficou tosco e engraçado, especialmente pra mim que tinha conseguido driblar o mico. Peguei o celular e mandei um torpedo pro “Dagoberto”.
– Ah lá Zé! Liga a Tv agora pra ver a tua pegadinha no ar...
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