terça-feira, 27 de março de 2012

Hartung como unanimidade e a realidade das pesquisas

Quem procurar formar opinião sobre a política capixaba pela leitura das colunas políticas da mídia local não vai conseguir entender nada dessa pesquisa publicada no domingo em A Tribuna.

Afinal, prá quem forma opinião pelos nossos cronistas, o ex-governador faz e acontece na política capixaba, pinta e borda, põe e dispõe. É a unanimidade que decide de antemão uma eleição, especialmente a de Vitória.

Diariamente, nossos cronistas gastam os seus espaços especulando em cima do "se", tentando decifrar o "enigma" dessa esfinge capixaba, vão enrrolando o leitor sobre as idas e vindas da possível candidatura. Vendem a idéia de que o processo só deslancha e é para valer depois das definições do líder e que outras possíveis candidaturas apenas fazem o papel de figurantes enquanto ele busca o momento certo da definição.

Pois é, se o nosso ex-governador é o fenômeno eleitoral que é, o que deveríamos esperar dos resultados de uma pesquisa de intenções de voto? Avassaladores números, coisas na casa de 65 a 75% das preferências dos eleitores em pergunta estimulada. Tivemos isso, por ex, com Vidigal na eleição passada na Serra

Mas, ao se debruçar sobre os números da pesquisa Enquet/Tribuna uma supresa de "pirar a cabeça" das velhinhas de Taubaté. Na intenção de voto espontânea, PH tem 9,7% das intenções de voto. Como? Se o nome é a unanimidade, como explicar esse número?

PH com 9,7%. Menos que Neucimar Fraga em Vila Velha na pesquisa Futura/Gazeta. Neucimar, que carrega a marca de gestor com a pior avaliação na Grande Vitória, tem 11% das intençoes de voto. Menos que Max Filho, com tres anos na planicie e sem caneta para nomear ou máquina para usar.

Nossos analistas vivem afirmando que outras possíveis candidaturas não tem a mínima possibilidade se a candidatura de PH fosse colocada. Será que o eleitor concorda?
Para confundir a cabeça da Velhinha de Taubaté, os números da espontânea mostram os nomes escolhidos pelos entrevistados embolados e em situação de empate técnico. PH, com 9,7% e Luiz Paulo, com 7,9%. João Coser, tambem em fase de profundo desgaste e avaliação em baixa, aparece com 6,4% (E olha que Coser não é candidato).

Na pesquisa estimulada nenhum fenômeno eleitoral a vista. Os 36% obtidos por PH não são nenhuma brastemp. Álias, para quem ocupou o poder durante 8 anos, sem crítica ou contestação e saiu sob o discurso da unanimidade são números frustantes.
Especialmente, se considerarmos que Luiz Paulo Vellozo Lucas e Luciano Rezende, somados, também atingem o patamar de 36%. Mais do que um palanque único, o eleitor de Vitória aponta para uma eleição acirradamente disputada no 1º turno.

Como falei no ínicio: quem se fia nos comentários de nossos colunistas e na louvação permanente a unanimidade do ex-governador não consegue entender bem esses números.
Mais do que análise, esforço de tentar construir a imagem desejada por PH, que só falta ser transformado em nosso El Rei Dom Sebastião e o eleitorado capixaba em uma massa milenarista de Sebastianistas. Para refrescar a memória e ajudar os nossos cronistas reais nas denominações possíveis em seus artigos, Dom Sebastião ficou conhecido como O Desejado; alternativamente, é também memorado como O Encoberto ou O Adormecido, devido à lenda que se refere ao seu regresso numa manhã de nevoeiro, para salvar a Nação.

Mas deixando de lado messianismos ou crenças milenaristas, tudo isso lembra aquela velha história de Garrincha. Estratégias definidas e explicadas e a pergunta: já combinaram com os russos?
No nosso caso, os russos são os eleitores; será que os estrategistas e nossos cronistas já combinaram com os eleitores?

2 comentários:

  1. Roberto,
    Talvez seja mais prudente pensar no vazio de representação e de candidaturas,onde a falta esteja influindo mais que a existência.Assim,nada impede que o Mosquito possa novamente ser eleito,agora a nível estadual.O eleitor também poderia inovar,votando direto na Senhora Empreiteira ou na Dona Propina.
    Luiz Leôncio Lorenzoni

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  2. Professor Roberto,
    Sempre muito bom ver sua ótima análise do cenário político. Muito pertinente a sua leitura objetiva dos dados. Como descrito, a busca pelo que o imaginário lê como "representante ideal" talvez esteja na descrença do que temos visto na esfera política, através dos desmandos - dos quais não convém listar.
    Nesse sentido, erguer PH ao status de "eleito" ou "elegível", esteja diretamente ligado ao período pós-José Ignácio que esse político herdou e aos "fãs eleitores" que arrebanhou. Decepcionante é vermos que as opções de voto, com ou sem um "El rei Dom", promovem essa pseudo unanimidade. Talvez, como disse o Luiz no comentário anterior, o mosquito atinja a mesma - pelo menos em Vila Velha.
    Um grande e saudoso abraço.
    Zenaide Margon

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