Votar no candidato perdedor diminui a felicidade das pessoas. Com relação à eleição presidencial de 2016, nos EUA, o efeito é brutal: tem um impacto equivalente a ficar desempregado.
Mas não há simetria entre perdas e ganhos: ganhar eleições não aumenta a felicidade das pessoas na mesma proporção.
Essa é a conclusão do estudo Presidential Elections, Divided Politics and Happiness in the US (eleições presidenciais, política dividida e felicidade nos EUA (2019), de Sergio Pinto e Carol Graham.
A felicidade é medida por métricas que capturam o nível subjetivo de satisfação com a vida e por atitudes que lhes são correlatas. A fonte é a pesquisa diária do Gallup com 11 mil eleitores, de 2012 a 2016.
As eleições afetam também a satisfação com a democracia, segundo Shane Singh (University of Georgia), em estudo com 67 mil eleitores e 62 eleições. Mas há uma diferença entre os eleitores que votaram e se identificam com o candidato vencedor e os que não se identificam, mas votaram nele. Neste grupo de eleitores de “voto útil”, o efeito é bem menor.
Podemos fazer a conjetura de que os eleitores de Fernando Haddad deveriam estar mais insatisfeitos com a democracia e com a própria vida do que os de seu rival. O grupo de eleitores estratégicos de Bolsonaro, que formaram junto com o núcleo duro de bolsonaristas uma maioria negativa —ancorada na rejeição do rival—, estaria mais propenso a estar satisfeito com a democracia.
Não temos dados desagregados acerca dos dois grupos, mas apenas uma série histórica sobre satisfação com a vida, coletada quadrimestralmente pelo Ibope/CNI, para o período 1996-2019.
O que chama a atenção na série é a brutal descontinuidade ocorrida entre 2014 e 2015, seguida de tendência moderada de reversão à média histórica. Provavelmente, esta queda deve-se ao efeito da combinação da eleição presidencial extremamente competitiva e polarizada, gerando sentimentos negativos intensos nos perdedores, com a recessão econômica e o escândalo do Petrolão.
Quanto à satisfação com o funcionamento da democracia, há os dados de pesquisa do Lapop que apontam que o número agregado de satisfeitos quase dobrou, de 21% para 41%, entre 2017 e 2019.
Ocorreu também aumento quanto à concordância sobre a democracia como melhor forma de governo (passa de 51% para 61%) e no respeito pelas instituições (de 41% para 51%).
A conclusão é contraintuitiva, mas os dados agregados são consistentes com o argumento do estudo: a maioria vitoriosa formada pelo voto útil e pelo voto sincero (voto na primeira preferência do eleitor) em Bolsonaro engendrou um efeito de eficácia política, ou seja, de que seu voto teve consequências.
(*) Marcus André Melo, professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).
Folha de S. Paulo/8 de julho de 2019
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