As birutas estão em polvorosa. Afinal, não tem sido tarefa simples indicar para que lado sopram os ventos da política global. Prova disso, foram as recentes eleições para o Parlamento Europeu, realizadas no fim de maio. Se a votação para a escolha dos 751 eurodeputados confirmou algumas tendências, ela também esboçou um rearranjo de forças na região. Os partidos de centro seguiram perdendo espaço. A direita radical encorpou. Até aqui, nada de novo - seguiu-se o figurino esperado. A grande novidade foi um crescimento surpreendente de liberais pró-União Europeia e "verdes".
Para a quase totalidade dos analistas, o avanço desses dois grupos atuou como uma barreira para conter a evolução dos "eurocéticos", populistas e nacionalistas, que prometia ser acachapante. Essa turma (com ideias anti-imigrantes, antiestablishment, antiglobalismo, anti-LGBTQ, anti-China, anti-Francisco, o papa...) ocupava perto de 20% dos assentos da câmara europeia em 2014. Agora, detém 25%. Havia a sólida expectativa, contudo, de que poderia alcançar 30%. Previsões fantasiosas chegaram a especular 50%. A questão que fica é óbvia: será que o ímpeto dos extremistas arrefeceu? Mais uma: será que essa eventual perda de tração pode atingir outras regiões?
É cedo, e nem sequer existem elementos, para responder a essas questões. O primeiro indício de mudança, contudo, está na mesa. E essa virada dos ventos, ainda que incipiente, tem sido atribuída a uma participação excepcional dos eleitores no pleito. Compareceram às urnas 51% dos 512 milhões de europeus com direito a voto, a maior cota registrada em 20 anos. A lógica por trás dessa tese indica que, quanto maior o envolvimento da população, menor o radicalismo. Pode ser. De qualquer forma, como anotou o cientista político búlgaro Ivan Krastev, em artigo publicado no "New York Times", as mesmas eleições também demonstram que a onda nacional-populista não passará tão cedo. Ao contrário. Hoje, boa parte dos líderes e ideólogos desses grupos tenta se reorganizar em um bloco. Na prática, eles querem formar uma espécie de "Internacional Populista". O sucesso dessa estratégia só será conhecido a partir de julho, quando o novo Parlamento iniciará seus trabalhos.
Soa um tanto dissonante atribuir à direita o termo "internacional", profundamente enraizado no marxismo clássico e nas ambições socialistas do início do século passado, ainda que remonte à Revolução Francesa. Mas as bases desse movimento, mesmo que às avessas, foram lançadas. Entre seus protagonistas, estão políticos que se fortaleceram nas eleições na Europa. Matteo Salvini, o ministro do Interior e vice-premiê da Itália, ocupa o topo dessa lista - lugar, aliás, no qual faz questão de se colocar.
Seu partido, a Liga Norte, dominou amplamente as urnas entre os italianos, com um discurso contra os imigrantes e a União Europeia. Ele passou de 6% dos votos obtidos em 2014, para nada menos do que 34% neste ano. Outro destaque foi Marine Le Pen, do Agrupamento Nacional (RN, na sigla em francês) - a nova marca da Frente Nacional. Com base na mesma retórica, ela conquistou 24% dos votos franceses e derrotou o presidente Emmanuel Macron, cujos candidatos atingiram 22%.
Essa frente nacional-populista europeia tem outros adeptos em potencial, ainda que não sejam aliados naturais de Salvini e Marine Le Pen. Nesse time joga, por exemplo, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, tido como o mais "distópico" dos representantes da direita radical. Seu partido, o Fidesz, arrasou. Ficou com 52% da preferência do eleitorado e terá 13 das 21 cadeiras húngaras na Eurocâmara. Não menos demolidora foi a atuação do inglês Nigel Farage. Ele criou o Partido do Brexit (o nome diz tudo) seis semanas antes das eleições europeias. Ainda assim, abocanhou 31% dos votos britânicos. Para dar uma ideia do que isso significa basta indicar que o Partido Trabalhista ficou com 14% e o Conservador, com 9%. Hoje, no Reino Unido, já não se discute como os conservadores sairão da atual crise em que se enfiaram, mas, sim, se vão sobreviver a ela.
Uma semana antes das eleições, Salvini e Marine Le Pen promoveram o primeiro teste de rua da nova internacional. O líder italiano organizou uma manifestação de partidários do nacional-populismo, na praça em frente ao Duomo de Milão, a imensa catedral em estilo gótico da cidade italiana. O objetivo do encontro era dar visibilidade para o grupo parlamentar Europa das Nações e das Liberdades, que reúne nacionalistas, "eurocéticos" e populistas da direita radical. Os discursos, como sempre, focalizaram os "burocratas" de Bruxelas. Não faltaram ataques contra "símbolos do establishment" como o francês Macron, a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o papa Francisco.
A audiência entre os líderes da direita radical foi altíssima. Quase todos os convidados compareceram, o que incluiu Geert Wilders, o político xenófobo holandês, líder do Partido pela Liberdade, além de representantes de dez partidos similares da Áustria, Bélgica, Alemanha, Dinamarca, República Tcheca, Eslováquia, Bulgária, Estônia e Finlândia. "Na verdade, não falta demanda para o tipo de discurso que essas pessoas oferecem", diz o cientista político Fernando Abrucio, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV-EASP). "Mas o problema é sempre o que eles conseguem entregar quando assumem o poder."
Daí outra dúvida: será que essa frente única nacional-populista vai dar certo? Muitos especialistas duvidam. Os políticos que compõem tais grupos nunca primaram pela cooperação. Além do mais, arestas agudas os mantém distantes. A maior delas chama-se Vladimir Putin. Ele é elogiado pela verve nacionalista e pelos "valores tradicionais" que defende e adota, embora alguns integrantes da direita radical afirmem abertamente que ele lidera uma "cleptocracia". Mesmo assim, os países do Leste Europeu mantêm um sem-número de rusgas com o líder russo, e esse nó não deve se desfazer tão cedo.
Esse, porém, é o lado militante da nova Internacional Populista, nas mãos de Salvini, Marine Le Pen e Geert Wilders. Mas o projeto da "internacional" tem um dono. Trata-se de Steve Bannon, o arauto do movimento nacional-populista no planeta. "A história está do nosso lado", bradou, seguidas vezes, nos últimos anos. Ele é uma figura conhecida, ainda que suas ambições globais não sejam tão difundidas. Foi estrategista-chefe da campanha de Donald Trump e conselheiro do presidente americano (chamado de o "Rasputin" da Casa Branca, numa referência ao mentor do czar Nicolau II, da Rússia). Dirigiu ainda o site conservador de notícias Breitbart News e atuou na Cambridge Analytica, a empresa responsável pelo escândalo da manipulação de dados de 87 milhões de usuários do Facebook, em 2016, às portas das eleições presidenciais americanas. Ele também é o ideólogo do "think tank" conhecido como The Movement.
"O Movimento", de Bannon, é uma espécie de resposta direitista à Open Society Foundations, a instituição sem fins lucrativos criada pelo magnata húngaro-americano George Soros, voltada para a promoção direitos humanos e de ações que fomentem a democracia em mais de cem países. Bannon chegou a definir a iniciativa de Soros como "um mal, mas brilhante".
O objetivo da entidade criada pelo ex-Rasputin de Trump, em 2017, segundo ele mesmo definiu, era oferecer aos partidos nacionalistas e populistas da Europa o know-how americano em pesquisa, mensagens e estratégias de "salas de guerra" para responder imediatamente a ataques políticos.
No último ano, porém, Bannon voltou-se para as eleições do Parlamento Europeu. Não deve ter saído satisfeito do processo. Empolgado, ele afirmou que a direita radical poderia ocupar 50% dos assentos da câmara europeia. Ficou com 25%. Como foi dito, trata-se de um resultado parrudo, mas em muito distante das expectativas do consultor americano. Na prática, "O Movimento" não decolou entre os europeus. Registrada em Bruxelas, em 2017, por Mischaël Modrikamen, líder do conservador Partido do Povo Belga, com a bênção de Salvini e Orbán, a entidade e seu ideólogo têm ambições que ultrapassam as fronteiras da Europa.
Em janeiro, por exemplo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi apresentado como o líder do The Movement na América do Sul. Na ocasião, o filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que não quis dar entrevista para esta reportagem, fez declarações protocolares a respeito da escolha. "Restauraremos a dignidade, a liberdade e as oportunidades econômicas na nossa grande nação e vizinhos", observou o parlamentar brasileiro. "A atuação de Bannon na Europa é vital, e apoiamos seus esforços contra o perigoso pacto global de migração."
As ações "globalistas" de Steve Bannon (na verdade, ele odeia esse termo) não se restringiram ao The Movement nos últimos anos. O consultor político também enveredou pelo campo religioso. Mesmo porque um dos seus temas - e alvos - diletos é o papa Francisco. O Santo Padre é criticado por boa parte da direita radical por defender imigrantes, pobres, gays, além de "não saber administrar" os escândalos recorrentes de abusos sexuais na Igreja Católica. Para atuar nessa seara, Bannon tentou criar outro "think tank" no ano passado - na Itália, em parceria com o Instituto Dignitatis Humanae (IDH), uma entidade católica conservadora, ligada ao cardeal Raymond Burke, líder da direita religiosa americana.
O projeto foi batizado pela mídia europeia de "templo do populismo". Ele funcionaria no mosteiro cartusiano de Trisulti, erguido em 1204, nas montanhas de Collepardo, a 130 km de Roma. A ideia era estabelecer um polo de formação de "gladiadores culturais", movidos pelos princípios do Ocidente judaico-cristão (parte crucial da retórica nacional-populista). Ali, seriam oferecidos cursos de mestrado em áreas como filosofia, teologia, história e economia.
O Ministério da Cultura da Itália chegou a conceder o uso do monastério por US$ 110 mil anuais, ao longo de 19 anos. Mas o processo foi barrado no mês passado. O jornal italiano "La Repubblica" informou que um documento de endosso do plano de negócios do IDH, fornecido pelo Jyske Bank, instituição financeira dinamarquesa, era fajuto. Um funcionário do banco confirmou a fraude à revista britânica "The Economist".
Bannon, por sua vez, disse que estava tudo certo. Atribuiu a confusão a uma celeuma provocada pela esquerda. O problema adicional foi que, à semelhança do que ocorreu com o The Movement, a tentativa do ex-assessor de Trump de se instalar entre italianos gerou protestos de toda a sorte. As críticas apontavam até para problemas com o turismo a partir da montagem de um polêmico QG conservador, em uma área conhecida por abrigar eremitas e místicos, entre labirintos de topiaria, abadias e conventos.
Mas o questionamento da atividade de entidades americanas na Europa foi além do mosteiro italiano. Em abril, um relatório produzido pelo site de notícias OpenDemocracy, com sede em Londres, apontou a existência de fluxos de dinheiro que cruzam o Atlântico para impulsionar agendas ultraconservadoras entre grupos europeus. De acordo com o informe, uma dúzia de organizações "fundamentalistas da direita cristã" dos Estados Unidos haviam despejado ali pelo menos US$ 50 milhões em recursos sem fonte identificada na última década.
Os recursos foram empregados no apoio de advogados e ativistas políticos, bem como em campanhas de "valores familiares" contra os direitos LGBTQ, a educação sexual e o aborto. Várias entidades beneficiadas estariam ligadas ao Congresso Mundial das Famílias, uma rede com conexões com políticos e movimentos da direita radical em países como a Itália, a Hungria, a Espanha, a Sérvia e a Polônia, onde o nacional-populismo e alguma dessas questões vêm ganhando uma dimensão alucinante.
O líder polonês Jaroslaw Kaczynski e os integrantes do seu partido, o Lei e Justiça (PiS), por exemplo, querem transformar o país em uma "zona livre de LGBTs". Pawel Adamowicz, então prefeito de Gdansk, morreu ao ser esfaqueado durante um evento de caridade, em janeiro. Ele era um importante defensor dos direitos da comunidade gay e da acolhida de refugiados.
Segundo relatório, o Centro Americano de Direito e Justiça está entre as entidades que realizaram os maiores gastos na Europa. Ele distribuiu US$ 12,4 milhões entre 2008 e 2017. A organização apresenta como conselheiro-chefe Jay Sekulow, um dos advogados pessoais de Trump. O Instituto Acton para o Estudo da Religião e Liberdade, que combina uma visão cristã conservadora com uma abordagem econômica de livre mercado, gastou US$ 1,7 milhão na Europa, entre 2008 e 2017. Na Itália, colaborou com o Instituto Dignitatis Humanae (IDH), o mesmo que recentemente se associou a Steve Bannon.
O trabalho do site britânico foi divulgado perto das eleições para o Parlamento Europeu. Os responsáveis pela produção do material observaram que os líderes do bloco estavam concentrados em prevenir e neutralizar uma possível interferência russa na votação, mas haviam fechado os olhos para outros tipos de influência. A divulgação dos dados teve ampla repercussão. "Mais de 40 deputados europeus escreveram para o presidente do Parlamento, da Comissão e do Conselho pedindo uma 'ação urgente' para proteger as eleições que estavam prestes a acontecer", diz Mary Fitzgerald, editora-chefe do OpenDemocracy. "O nosso texto foi publicado em 20 idiomas e 50 meios de comunicação."
Mary observa que, na Europa, existem leis de financiamento de campanhas que deveriam dar transparência ao processo eleitoral. "Mas, na realidade, há tantas lacunas e o apoio tanto logístico como tático 'em espécie' pode ser dado com pouca supervisão", afirma. "Enquanto isso, plataformas sociais não estão conseguindo rastrear adequadamente e divulgar quem está financiando anúncios de políticos direcionais aos eleitores on-line. Atualmente, é muito fácil tirar proveito de tudo isso."
Já no Brasil, com ou sem The Movement, a direita, recém-reerguida, vive uma divisão. O racha deu-se durante a preparação para os protestos do domingo, 26 de maio, que ocorreram em mais de cem cidades brasileiras. O evento foi convocado pelo time do chamado "bolsonarismo-raiz", que defende um confronto franco com o que chama de "velha política". Os principais alvos das manifestações, por isso mesmo, eram congressistas, notadamente o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF).
A ala moderada da direita, entretanto, questionou até que ponto a convocação ultrapassava a linha divisória entre a democracia do arbítrio. "O que estava se armando não eram manifestações propositivas", diz Hélio Beltrão, presidente do Instituto Mises do Brasil, um "think tank" de viés ultraliberal com sede em São Paulo. "O objetivo daquela ação era apenas demonizar os políticos, além de amordaçar o Congresso e o Supremo. O tom era o seguinte: 'Nós preparamos uma pauta. Agora, vocês a aprovem e ponto'. O que se pretendia era emparedar poderes, com apoio da multidão impulsiva, mobilizada por um discurso simplista. O nome disso é olocracia."
O analista político Alexandre Borges, ex-diretor do Instituto Liberal, outro "think tank", fundado em 1983, e um dos mais antigos centros de difusão de ideias liberais do Brasil, diz acreditar que essa divisão era inevitável. "O que se convencionou a chamar de 'nova direita' brasileira é um grupo para lá de heterogêneo", diz. "Em determinado momento, essas pessoas se uniram por um ideal comum. No caso, ficaram contra o PT, em particular, e contra a esquerda, em geral. Mas discordavam totalmente sobre um número imenso de questões, como fica cada vez mais evidente."
Assim, de um lado da banda da direita, ficaram os moderados, na maioria oriundos de "think tanks" criados no Brasil desde os anos 80. A outra ponta foi preenchida pelo núcleo duro do bolsonarismo. No governo, eles incluem os filhos do presidente, alguns ministros como Abraham Weintraub (Educação), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Salles (Ambiente), além de jovens que ocupam cargos no segundo. Nesse caso, um dos destaques é Filipe Martins, o assessor para assuntos internacionais do presidente. Trata-se de um jovem natural de Sorocaba, ex-aluno de Olavo de Carvalho, o guru da turma toda, e admirador de Bannon.
Essa ala radical é complementada por uma militância on-line tão ativa quanto agressiva. Nesse sentido, lembra o modelo de ativistas da alt-right (a direita alternativa), nos Estados Unidos. Como definiu George Hawley, professor de ciência política na Universidade do Alabama, em artigo publicado na revista "Foreign Affairs" ("The European Roots of the Alt-Right"), são grupos movidos por uma multidão de trolls nacionalistas.
O problema é que essa ruptura da direita se espraia pelo dia a dia do governo sob a forma de contradições e conflitos. Olavistas (e o próprio Olavo de Carvalho) criticam uma vasta lista de pessoas e grupos, o que inclui os militares, considerados como inimigos íntimos (eles lhes atribuem, na verdade, "um perfil tucano"). Os parlamentares bolsonaristas também não se fazem de rogados. O deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP) recomendou recentemente que o governador do Rio, Wilson Witzel, despachasse um míssil contra a Virgínia, nos Estados Unidos, onde mora Carvalho, para "resolver 50% dos problemas do Brasil". Witzel, também da base bolsonarista, já havia dito que lançaria uma bomba desse tipo para acabar com o tráfico e com os "bandidos" da comunidade carioca de Cidade de Deus.
A operação do governo também patina com essas divisões. Um exemplo inequívoco desse tipo de problema foi a produção da Medida Provisória 881, editada em 30 de abril, e conhecida como "MP da Liberdade Econômica". O objetivo da proposta deveria ser criar normas gerais para balizar a atividade regulatória da administração pública. Com isso, seriam eliminados eventuais arbítrios e incertezas que recaem sobre a atividade privada. Um texto nesse sentido foi produzido por um conjunto de juristas, organizados em torno do Ministério da Economia. Ocorre que, quando tudo já estava encaminhado, esse grupo foi atropelado. Da ala radical, surgiu a MP, cujo sentido é, em muitos aspectos, oposto ao que se deveria esperar de uma lei de liberdade econômica. A 881, por exemplo, consagra exceções a partir das quais o Estado, em todas as esferas, pode intervir arbitrariamente na atividade econômica, o que inclui definir preços praticados pelo mercado.
Outros entraves, apontam fontes do governo, têm surgido com a falta de interlocução com os parlamentares. Como a administração federal não tem base no Congresso, os técnicos dos ministérios se encarregam do diálogo com os políticos. Essa conversa, entretanto, raramente dá-se no mesmo tom. Com isso, os projetos correm o risco de ficar pelo caminho. O fato, observa o cientista político Fernando Abrucio, da FGV-Easp, é que a direita radical representa cerca de um quarto, no máximo um quinto, do eleitorado nas mais importantes democracias do mundo. Não é maioria à exceção de lugares como a Hungria, de Orbán. Não raro, ela se elege no embalo de situações conjunturais, como o antipetismo no Brasil.
"O problema é que os líderes desses movimentos muitas vezes não se preocupam com políticas públicas e, sim, com valores", afirma Abrucio. "Esse é um elemento que unifica os políticos ligados ao nacional-populismo. A questão é como se governa com esse discurso, muitas vezes movido pelo ressentimento." Pois é justamente isso que anda difícil de entender. Isso em todo o mundo.
Valor Econômico/21 de junho de 2019