Saber quando descer do umbuzeiro é a grande lição do maior gênio político brasileiro. Seu melhor biógrafo, Lira Neto exaltou-lhe a importância ao contá-la logo na abertura da trilogia sobre Vargas. Aos 13 anos, o pequeno Getúlio aprendeu a esperar a hora certa. Após espatifar retrato do principal ídolo paterno, escondeu-se na árvore mais frondosa da estância da família. Trepado, tiritou de frio noite e dia, até garantir que a surra certa pelo pai virasse recepção carinhosa da mãe. Em vez do relho, beijos.
Manipular o tempo e a expectativa das pessoas para fazer-se desejado é algo que políticos aprendem por bem ou na marra. Os indecisos se atrasam e perdem a oportunidade. Os ansiosos se antecipam e queimam a largada. Os incautos se esborracham.
Faz um ano, João Doria foi o grande vencedor da mais superlativa eleição já disputada no Brasil. Entre centenas de milhares de candidatos a prefeito e vereador, teve a maior votação e dispensou 2º turno – fato inédito para um prefeito paulistano. Virou símbolo da antipolítica e de um retrofit de fachada. No cangote da renovação, galgou o umbuzeiro mais rápido e alto do que seus avalistas no PSDB poderiam e gostariam de imaginar.
Sem paciência para esperar, Doria furou a fila tucana e fez do padrinho padrasto. O mesmo Alckmin que o ajudara a ganhar as prévias do partido na eleição paulistana virou rival. Prevendo derrota entre correligionários, o prefeito lançou-se em campanha Brasil adentro. Pressionando por fora o PSDB a escolhê-lo candidato a presidente, pediu pesquisas de opinião em vez de prévias. Mas o galho em que Doria pisou mostrou-se fino demais.
Após três meses, a fantasia de gari de fim-de-semana começou a desbotar. O “buzz” nas mídias sociais caiu à metade, depois a um quarto, antecipando o que viria a ser confirmado nas pesquisas. Doria tem tanto ou menos intenção de voto do que Alckmin no Datafolha. Pior para ele, a maioria dos paulistanos não o quer candidato, mas prefeito. Se é para sair, que fosse a governador. Sua popularidade entrou em declínio. Perdeu o momentum.
Doria reage mal no contratempo. Bateu boca com um ex-comensal de 80 anos que ele agora chama de “velho”, “fracassado” e “de pijamas”. É briga na qual se perde mesmo quando se ganha. Além de revelar destempero, o presidenciável deu munição para os inimigos. Eles imediatamente truncaram seu vídeo contra Alberto Goldman e o transformaram em uma declaração que parece se voltar contra todos os desempregados e aposentados do país. Viralizou.
“Quando a circunstância não se mostrar garantida, o melhor a fazer é esperar, resistir, transformar o tempo em aliado. Jamais descer do umbuzeiro antes da hora”. A sentença de Vargas segue atual. Não apenas para Doria, mas para todos os candidatos a candidato a presidente. Não basta exibir qualidades demandadas pelo eleitorado. É preciso dominar o timing da eleição.
Quem se expõe cedo demais apanha por mais tempo. Com Doria em queda, aumentarão as especulações sobre quem tem a ganhar com a sua precipitação do umbuzeiro. Alckmin e Doria dividem uma parte dos respectivos eleitorados, mas a sobreposição não significa que haverá uma transferência automática do restante de um tucano para o outro. Basta ver como o MBL trata prefeito e governador no Facebook: impulsiona 11 vezes mais Doria do que Alckmin.
Outro que espera se beneficiar, porque também tem parte do eleitorado em comum, é Bolsonaro. Mas o deputado e favorito das corporações armadas também entrou na linha de tiro (retórico). Além dos dois, abre-se a porta para um terceiro virar novidade.
Tão importante quanto saber descer do umbuzeiro é controlar a hora de voltar a subir nele.
Fonte: O Estado de São Paulo (09/10/17)
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