Governos de coalizão requerem o compartilhamento de poder e de recursos com parceiros que não necessariamente compartilham as mesmas preferências políticas com o presidente. Os governos do PT, entretanto, nunca entenderam bem o funcionamento de governos de coalizão, pois têm montado coalizões com um grande número de partidos, ideologicamente heterogêneas e desproporcionais, ao sobrerrecompensar o próprio PT e sub-recompensar os outros aliados.
Essa estratégia tem gerado animosidades entre parceiros e custos crescentes de coordenação e de gestão da coalizão, principalmente durante os governos da presidente Dilma Rousseff. Acima de tudo, tem produzido governos ineficientes, pois, além de caro, a taxa de sucesso de iniciativas legislativas da presidente tem sido relativamente baixa.
No início de seu segundo mandato, a presidente Dilma cometeu outro grande erro. Patrocinou a criação de novos partidos com o objetivo de fragilizar o seu principal aliado, o PMDB. Aumentar a fragmentação partidária diminuiria o poder de partidos grandes e ideologicamente amorfos, como o PMDB. Mas, por outro lado, aumentaria os problemas e custos de coordenação do Executivo e dificultaria ao eleitor diferenciar o emaranhado de partidos que fazem parte da coalizão do presidente. Além do mais, ao bater de frente com as principais lideranças do PMDB, em especial ao não apoiar a candidatura de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, tornou as relações entre o governo e o PMDB mais tensas e instáveis.
Entretanto, para além da dinâmica natural entre aliados políticos de disputa por maior espaço no governo e de mais acesso a recursos, o jogo entre governo e PMDB adquiriu uma dinâmica de sobrevivência individual, com a inclusão das duas principais lideranças do PMDB e do Legislativo no inquérito da Operação Lava-Jato.
Diante do risco de sobrevivência política de Eduardo Cunha e Renan Calheiros, a estratégia dominante do PMDB passou a ser fragilizar o governo no curto prazo e obstaculizar, sempre que possível, a sua agenda política no Congresso com o objetivo de tornar a presidente refém dos seus interesses e para que o governo e o PT percebam que eles são imprescindíveis e, consequentemente, banquem os custos de suas defesas políticas.
Hoje, não apenas importa obter mais espaços e recursos do governo, pois o PMDB agora cobra o preço de ser protagonista de um governo que se fragilizou pelos seus próprios erros e escolhas monopolistas de gerir sua coalizão. Vai ser caro gerenciar uma coalizão com um PMDB, mas ele se tornou muito grande para ser ignorado.
(*) Carlos Pereira é cientista político e professor da Ebape/FGV
Fonte: O Globo
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