terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Ameaça endógena (Raymundo costa)



Ataque a Campos partiu de grupo próximo a Lula

O PT é um partido em dúvida sobre a melhor estratégia eleitoral a ser adotada em relação ao PSB, parceiro de outras tantas disputas presidenciais. De um lado estão aqueles focados no projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff; de outro, os que preferem matar no nascedouro qualquer ameaça à hegemonia conquistada pelo Partido dos Trabalhadores, nos últimos 20 anos, no campo da esquerda.

Aqueles focados na reeleição da presidente Dilma avaliam que a disputa de 2014 será tão ou mais difícil que as últimas eleições vencidas pelo PT. À exceção de 2002, em todas o Partido dos Trabalhadores esteve prestes a vencer no primeiro turno, mas por um motivo ou outro, como os aloprados em 2006, teve que se submeter ao segundo escrutínio, do qual saiu vitorioso até com folga.

Depois do tombo de junho de 2013, Dilma e seu governo recuperaram popularidade e aprovação, mas os índices continuaram distantes daqueles aferidos no primeiro semestre do ano passado. Em março, a aprovação da governante acumulou 65%, segundo pesquisa de opinião Datafolha. No momento, a presidente da República namora com a reeleição no primeiro, mas as análises do PT não descartam a hipótese da segunda rodada.

Isso tudo na atual configuração da disputa, que tem Aécio Neves e a dupla Eduardo Campos e Marina Silva como eventuais candidatos do PSDB e do PSB-Rede, respectivamente. Nada sugere que esse quadro permanecerá estável. Além de um candidato do PSOL, provavelmente o senador Randolfe Rodrigues (AP), há a incógnita chamada Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), que diz não ser candidato mas fala e age como se fosse. O pastor Everaldo Pereira ameaça sair pelo PSC.

PSOL e outros nanicos podem levar pontos que seriam bem-vindos a um candidato atrás da vitória no primeiro turno. Joaquim Barbosa seria uma mudança com força gravitacional suficiente para alterar o equilíbrio da eleição (as especulações mais recentes sobre o presidente do Supremo dizem que ele pode sim ser candidato, mas para disputar uma cadeira ao Senado pelo Rio de Janeiro).

Nesse contexto, uma ala do PT acha prudente preservar as relações com PSB de Eduardo Campos, um aliado histórico do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: o PT pode precisar dele, se a eleição de outubro for para o segundo turno com Dilma e o candidato da oposição - o nome esperado é Aécio - na cédula eletrônica. Nessa turma estão ministros da presidente Dilma e integrantes da DS, uma tendência do PT hoje abrigada no grupo denominado "Mensagem".

O principal ataque do PT a Eduardo Campos foi desferido pela tendência hoje denominada "Construindo um Novo Brasil", na qual se abriga a antiga "Articulação", o chamado campo majoritário, grupo que sempre deu as cartas no partido. É da CNB a impressão digital do artigo publicado no perfil do PT em uma rede social que ameaça uma eventual reconciliação entre as siglas desavindas.

"Ao descartar a aliança com o PT e vender a alma à oposição em troca de uma probabilidade distante - a de ser presidente da República -, Campos rifou não apenas sua credibilidade política, mas se mostrou, antes de tudo, um tolo".

A decisão sobre a publicação do artigo teve origem na coordenação da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), entre pessoas próximas do ex-presidente Lula desde os tempos de sindicalismo. A gota d'água foi paroquial: a decisão de Campos de chamar o PSDB de Pernambuco para o governo estadual, ocupando espaços que antes eram do PT.

O artigo pegou a direção nacional do PT em férias. Realmente não era autorizado e foi considerado um "tiro no pé". Mas ninguém na cúpula tomou a iniciativa de retirá-lo do ar ou pensou em pedir desculpas a Eduardo Campos, como praticamente exigiu o PSB, em nota oficial.

O problema dessa ala do PT com o governador nem é sua associação com a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, ambos dissidentes dos rumos que o governo tomou com a presidente Dilma. A questão é a associação do governador de Pernambuco com a oposição, ou seja o senador Aécio Neves, provável candidato do PSDB, o partido mais bem estruturado para enfrentar o PT nas eleições de outubro.

As expectativas em relação às candidaturas de Aécio e Campos eram de "canibalização". Isso pode ocorrer mais adiante, parece até mesmo inevitável. Mas pelo menos por enquanto, o que os dois têm demonstrado é uma surpreendente capacidade de se entender contra um adversário comum: o governo da presidente Dilma. A sinalização de Campos é na direção da oposição. Essa proximidade inibe quem aposta na manutenção de pontes entre o PT e o PSB.

A preocupação do PT e de seu núcleo mais duro com o avanço do PSB tem sua lógica, trata-se de uma ameaça endógena: no campo da "esquerda", os pessebistas foram os únicos a demonstrar força para avançar eleitoralmente e estabelecer concorrência direta com o PT. Em 2010 foi quem mais elegeu governadores, entre os partidos da coalizão governista. E Campos mantém o discurso social de quem foi governo com Lula e a maleabilidade de quem é capaz de conversar e se entender com a oposição.

O ex-governador José Serra foi enxotado da disputa interna pela indicação do PSDB à Presidência sob o pretexto de que o nome de Aécio Neves precisava ser lançado em janeiro, época em que PSB e Rede também confirmariam Eduardo Campos e Marina Silva. O argumento esgrimido até por aliados de Serra no PSDB era o de que Aécio não poderia perder tempo em relação a Campos e à presidente Dilma Roussef, em campanha há quase um ano. Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso engrossou o coro de que acusavam de atrapalhar a evolução de Aécio Neves na avenida. Serra resolveu sair do caminho e postar, em seu perfil no Facebook, uma mensagem dizendo que o PSDB deveria lançar o nome de Aécio Neves imediatamente. Pois bem, agora a direção tucana (Aécio é o presidente do partido) fala em fazer o lançamento em março. Como Serra dizia que estava combinado entre os dois. Por essas e outras é que há quem ainda duvide da candidatura Aécio.

Fonte: Valor Econômico

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