sábado, 16 de março de 2013

IDH: devagar, devagarinho


O Brasil estacionou no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Depois de avanços significativos desde 1990, o país vem perdendo força nos últimos anos, prejudicado, principalmente, por maus resultados na educação e uma desigualdade de renda ainda dolorosa. O governo petista esperneou contra a constatação desta triste realidade. Melhor seria se agisse adequadamente para transformá-la.

Pelos resultados divulgados ontem pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o país manteve-se em 85° lugar, entre 187 nações, com IDH de 0,730. O índice é uma média geométrica que reflete expectativa de vida de 73,8 anos, 7,2 anos de estudo e renda per capita anual de US$ 10.152.

O nível de desenvolvimento do Brasil no ano passado é inferior ao que países como Noruega, EUA e Japão possuíam há 40 anos. Na edição anterior, divulgada em novembro de 2011, havíamos subido uma posição no ranking, ultrapassando São Vicente e Granadinas. Desta vez, nem isso: este notável produtor de bananas das Antilhas voltou a figurar na nossa frente, na 83ª colocação. Uma pena...

O Pnud fez questão de destacar que o Brasil tem tido desempenho positivo na melhoria da qualidade de vida de sua população na história recente. Mas o órgão da ONU deixou claro: este processo não é de agora, vem desde a década de 90. Talvez tenha sido isso o que mais tenha irritado os petistas.

Com base no levantamento da ONU, dá para ir ainda mais fundo na comparação entre períodos recentes. Entre 1990 e 2000, a taxa média de crescimento do IDH brasileiro foi de 1,26% ao ano. Foi o período de maior avanço desde que as Nações Unidas iniciaram o levantamento, em 1980. E o que acontece no intervalo posterior, já de predomínio dos governos petistas? Desde 2000, o ritmo caiu para 0,73% anual, ou praticamente à metade.

O relatório da ONU destaca políticas públicas que colaboraram para o avanço das condições de vida no país. Estão lá o Plano Real e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef), criado em 1996 na gestão Fernando Henrique. Ah, para completar o Pnud qualifica o Bolsa Família como "versão otimizada" do Bolsa Escola, outra realização tucana. Deve ter sido demais para a arrogância petista...

Infelizmente, os avanços que começaram lá atrás estão agora se dissipando, notadamente na educação. Entre os sul-americanos, nossa média de escolaridade (7,2 anos) só não é menor que a do Suriname. No ritmo de avanço atual, o Brasil demandará uma geração para atingir o nível educacional da Noruega (com 12,6 anos de estudos em média).

A situação brasileira também revela-se vergonhosa quando o quesito é a desigualdade de renda. Aí caímos para 97ª colocação do ranking. Entre os países classificados como de desenvolvimento humano elevado, só não nos saímos pior que a Colômbia. Quando se utiliza o índice de Gini (0,547), somos o 13° país mais desigual do mundo.

O ranking divulgado ontem também permite outras conclusões pouco abonadoras para o discurso oficial adotado pelo governo brasileiro na era Lula-Dilma. A ONU mostra que a melhora nas condições de vida e a ascensão social, com a emergência de novas camadas urbanas de classe média, é um fenômeno mundial. Nunca uma particularidade brasileira.

Constata-se, também, que países que já exibem IDHs bem mais avançados e que, naturalmente, deveriam estar evoluindo numa velocidade menor que a nossa continuam indo mais rápido que a gente, como são os casos de Argentina, Chile e Uruguai, para fixar-se apenas nos vizinhos. O hiato que nos separa dos chilenos no ranking, por exemplo, era de 28 posições dez anos atrás e agora é de 44.

"Efetivamente, a situação do Brasil no ranking do IDH piorou", afirmou a'O Globo o professor Flávio Comim, que já coordenou relatórios anteriores do IDH no Brasil. Segundo ele, o último ano em que o Brasil esteve bem no ranking foi 2005 (63° lugar).

O IDH é um ótimo espelho para o país se enxergar e dar-se conta dos desafios, imensos, que ainda precisa superar. As constatações decorrentes do relatório do Pnud deveriam ser recebidas com serenidade pelo governo brasileiro, como o são em qualquer parte do mundo. Mas, como suas incômodas conclusões conflitam com o Brasil virtual que os petistas propagandeiam, a gestão Dilma preferiu vilipendiar o relatório. Só falta dizer que a ONU é um aparelho tucano.

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