Quem lê a resolução da Executiva Nacional do PT sobre a reeleição da presidente Dilma Rousseff e as tarefas do novo mandato chega à conclusão de que o PT pensa que venceu as eleições sem os aliados de centro-direita — como o PMDB, o PP, o PSD e o PR — e resolveu apostar na ampliação do capitalismo de Estado e na construção de uma democracia popular. O programa proposto ao novo governo não tem ideias novas, é todo ele baseado em velhas propostas de conteúdo nacional-populistas da década de 1960.
O PT cobra de Dilma a conta da mobilização dos militantes para a vitória no segundo turno e tenta dar uma guinada à esquerda na política de alianças do governo. Sai o “presidencialismo de coalizão”, que garantiu o segundo mandato do ex-presidente Lula e a eleição de Dilma em 2010, cujo eixo privilegia o Congresso, e entra uma “ampla frente” de movimentos sociais, partidos e setores de partidos, intelectuais, juventudes e sindicalistas “em defesa de reformas democrático-populares”. É uma aposta na mobilização popular como forma de sustentação do novo governo. A implantação da jornada de trabalho de 40 horas sem redução de salário, o fim do fator previdenciário e as reformas agrárias e urbana seriam as bandeiras para empolgar os sindicatos de trabalhadores e os movimentos dos sem-terra e dos sem-teto.
Quais são as reformas? Nada a ver com a necessidade de fortalecer as instituições democráticas do país, melhorar a qualidade do ensino, o atendimento à saúde, a segurança pública, a produtividade do trabalho, promover a inovação e desenvolver a tecnologia, reorganizar o sistema tributário, mudar o modelo de transportes de pessoas e de cargas, modernizar o país e voltar a crescer. A prioridade é consolidar a hegemonia petista no governo, com a realização de um plebiscito para convocar uma Constituinte exclusiva, a aprovação de uma “Nova Lei da Mídia democrática”, a reversão da derrubada da Política Nacional de Participação Social, a desmilitarização das polícias militares e a revisão da lei da Anistia, com punição dos torturadores.
O PT exagera no peso dado aos protestos do fim de semana, nos quais surgiram propostas de impeachment e apelos à volta dos militares ao poder, para legitimar a radicalização das propostas políticas. Acusa os partidos de oposição de não reconhecerem o resultado da eleição. Mas isso é uma espécie de auto-engano. O que ameaça a estratégia petista são fatores objetivos, contra os quais o PT nada pode fazer: de um lado, a situação da economia, que faz das propostas apresentadas um salto no precipício; de outro, a correlação de forças na sociedade, depois de um resultado eleitoral tão apertado.
Diante desse cenário, qual é a alternativa sensata para a presidente Dilma Rousseff? Não é apostar na radicalização política e no confronto com a oposição, numa escalada irresponsável, que nada tem a ver com a necessidade de reaproximar o Palácio do Planalto dos setores produtivos e impedir que o país mergulhe numa grave crise econômica. A alternativa de Dilma é dar um cavalo de pau e fazer parte daquilo que dizia na campanha que a oposição faria, como elevar os juros, cortar os gastos, retomar o programa de concessões, etc. Além, é claro, de fazer uma boa faxina na Esplanada.
Essa é a encruzilhada do novo governo. A montagem de seu novo ministério dirá se dobrou a aposta no modelo que quase a levou à derrota, como gostaria o PT, ou resolveu sair dessa enrascada por uma via de negociação com o Congresso, a oposição e a sociedade. Dilma é refém das forças políticas moderadas que a apoiam, principalmente o PMDB. Ou seja, se Dilma insistir nas pedaladas, vai cair da bicicleta.
Correio Braziliense
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