sexta-feira, 28 de março de 2014

As raízes da nostalgia (Murillo de Aragão)



Existe, tanto no PT e entre seus aliados quanto no PSDB, uma imensa nostalgia com relação aos dois últimos ex-presidentes da República. São, de longe, os preferidos para disputarem a campanha presidencial em outubro.

Diz Vinicius Torres Freitas, em coluna na Folha (19.3.14), que o país está à espera de algo extraordinário, e que tanto FHC quanto Lula fizeram mágicas e milagres por meio de reformas conciliadoras. Para ele, nenhum dos atuais candidatos desperta nem tais sentimentos nem a esperança de que possam fazer mágicas e milagres. Daí o saudosismo em relação a ambos.

No PSDB, não sem razão, vive-se uma época de nostalgia de tudo o que o PSDB foi nos tempos de FHC. Acrescenta-se o fato de que o tucanato paulista não tem um engajamento total com a campanha de Aécio Neves.

Uma parte porque os serristas não esquecem os atritos e os desencontros da campanha passada, inclusive com guerra de “dossiês”. Outra parte devido aos fenômenos “dilmanastasia” e “dilmaécio”, ocorridos em Minas Gerais em 2010.

Outra razão atravessa a questão. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, é pré-candidato a presidente em 2018. Mas a eleição de Aécio Neves deve inviabilizar tal operação, já que Aécio seria o candidato natural do PSDB em 2018, caso eleito este ano.

Como sempre, a fogueira de vaidades e interesses no PSDB arde alta, com mágoas do passado e esperanças para o futuro. Assim, nada melhor do que trazer o nome de FHC de volta ao debate. Seria um conciliador entre o passado e o futuro, além de representar um fato novo de proporções significativas. Mas isso não passa de sonho. Ou de balão de ensaio.

FHC não é candidato a nada. Pois, acima de tudo, ama ser simplesmente FHC e, afora a piscina do Alvorada e o helicóptero presidencial, não sente grandes saudades de seus tempos de presidente, embora tenha muito orgulho do que fez.

No PT, o queremismo “volta Lula” tem motivos diferentes. O primeiro deles é o imenso desagrado com a conduta política do governo na relação com seus aliados. O resultado é que mais de 90% da base aliada gostaria que Lula fosse o candidato presidencial, incluindo a bancada do PT no Congresso.

Lula trabalha para voltar em 2018 e sabe que é temerário antecipar o retorno à disputa sem um motivo muito especial. Lula, em que pese ter muitas restrições à condução do atual gestão, tem esperanças de que Dilma aprenda com seus erros e faça um governo de maior convergência e menos arrogância.

Assim, sem Lula e FHC, a campanha presidencial será dos nomes que estão por aí. Nada mal. Apesar de não terem o histórico de “milagreiros”, os três candidatos são nomes fortes e interessantes.

Dilma, mesmo com seus tropeços políticos e a falta de entrega de bons resultados econômicos, tem história e realizações para mostrar. Caso a Copa do Mundo funcione razoavelmente bem, sua imagem sairá fortalecida.

Aécio e Eduardo Campos (PSB) foram bons governadores e tiveram elevados índices de aprovação no posto. Ambos trazem o traço da conciliação como políticos. São nomes jovens que surgem após décadas de protagonismo de figuras oriundas dos tempos do regime militar.

Salvo um evento extraordinário, a campanha deverá ficar restrita aos nomes que estão postos.

Murillo de Aragão é cientista político.

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