O Brasil vive uma grave crise de liderança política e, a seu modo, o PSDB tem parte nisso. A pouco menos de um ano das eleições, o partido esbanja as consequências negativas de suas divisões internas e tarda em assumir o papel que a crise de seus competidores lhe oferece de bandeja. Nem PT nem PMDB têm condições éticas e políticas para se reapresentar como alternativa para tirar o País da crise, o que torna invejáveis as chances do PSDB. Mas ele precisa estar unido e preparado para aproveitá-las. Estará?
É difícil responder com base no cenário atual do partido. O problema não é que João Doria frustre os que o elegeram para prefeito e queira atropelar a candidatura do governador Geraldo Alckmin à Presidência. O problema é que, tanto nessa questão, como na que se refere à participação do partido no governo do PMDB, a impressão que se tem é de que faltam critérios e regras claras capazes de apontar o rumo político que o partido propõe ao País.
O vácuo deixado por outros partidos tem de ser preenchido por propostas concretas para resolver os problemas do País e para livrar-nos do flagelo da corrupção; mas até agora os indícios nesse sentido são escassos. Um partido que ambiciona voltar a liderar o País precisa demonstrar aos seus apoiadores que pode enfrentar unido e democraticamente as suas diferenças internas. E, até recentemente, as prévias defendidas por Alckmin pareciam apontar para isso, desde que antecedidas por amplo debate público em torno dos projetos dos candidatos. Mas um partido realmente democrático talvez devesse ir mais longe e, por exemplo, se inspirar nas primárias americanas que mobilizam multidões.
No cenário que evolui para incluir a ameaça de duas candidaturas populistas, o PSDB tem o desafio de se constituir na alternativa viável de centro, crítica das aventuras irresponsáveis dos governos ditos de esquerda do PT e, ao mesmo tempo, de costas para a opção autoritária que olha com bons olhos a ditadura. Mas, para fazer isso, o partido precisa se unir e focar energia e ação, não em lutas intestinas que nada significam para seus eleitores, mas no que quer realmente propor ao Brasil.
(*) Professor de Ciência Política da USP
Fonte: O Estado de São Paulo (1/11/17)
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