domingo, 1 de setembro de 2013

O FERRACISMO, A "RACIONALIDADE DOS CARANGUEJOS" E AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ (José Roberto Bonifácio)

Eu já havia intuído, e tenho repetido a diversos colegas e amigos, que a imagem de Ferraço começaria a aparecer tão logo as recorrentes demandas da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal assim o exigissem (espionagem americana; crise diplomatica com a Bolivia; fronteiras; imigração; Oriente Médio, região de onde os antepassados sírio-libaneses maternos do ex-vice governador são originários; licitação de caças da FAB; Direitos Humanos etc.).

O "branding" dele se tornou excepcional e seu nome vem se consolidando como uma alternativa competitiva ao pólo dominante da centro-esquerda regional.

Agora resta saber se a centro-direita capixaba terá a propensidade ao risco necessária para se desatrelar do atual governo e reassumir seu projeto, sua identidade e suas características próprias, autônomas e singulares.

Este traço de nossa cultura política, muito mais que aquele aspecto ou faceta conjuntural da biografia politica do senador peemedebista, segue sendo um grande obstáculo à sua candidatura ao governo do ES, uma barreira estrutural relevante.

Se este campo ideológico se acha confinado numa estratégia dominada na atualidade - assim como a esquerda permaneceu por pouco mais que uma década até que a chapa PSB/PT inverteu o equilibrio do jogo através da projeção do ex-senador Casagrande em 2010 - é porque as taxas de risco político, endogena ou exogenamente produzidas e difundidas, se tornaram elevadas e inescapáveis.

Ricardo Ferraço certamente é um veterano das desventuras da política de "frente ampla" ou "unidade" - que também poderiamos traduzir como uma necessidade imperativa ou quase atávica pela formação de supercoalizões na história politica regional, a necessidade de aumentar o numero de ganhadores e de tirar todos os demais do dominio das perdas. Epitomiza muito bem esta faceta e seus desdobramentos.

E já o era, muito antes da fatidica decisão hartunguista de recuar da indicação dele como sucessor putativo em 2010. Quem não se lembra das idas e vindas do mesmo atual senador peemedebista como deputado estadual na ALES da segunda metade dos anos 1990 (então filiado ao PSDB...), enquanto alternativa do governo de centro-esquerda (em que Casagrande era vice-governador e depois lançando-se à sucessão em 98) ao chamado "triunvirato"?

Se o senador não demonstrou naquelas duas ocasiões anteriores a vocação para o individualismo - que pretexta não dispor na entrevista abaixo - a par da vocação "carangueijeira" de seus rivais (notóriamente Paulo Hartung e Renato Casagrande), isto não quer dizer que tenha deixado de aprendê-la em face de seus ultimos insucessos.

Entrevista

“Não faço política nem gestão com individualismo” - Ricardo Ferraço (PMDB), senador

Cotado para disputar o governo, senador Ricardo Ferraço fala sobre sua possível candidatura e comenta o fim da união de forças em favor do Estado. Confira:

O sr. será candidato ao governo do Estado?

Sou movido por desafios e resultados. Tenho recebido estímulo e motivação dos capixabas, de lideranças empresariais, políticas, comunitárias, de vários segmentos. Também tenho recebido estímulos da direção nacional do meu partido, inclusive do vice-presidente da República, Michel Temer. E a ideia de debater o Espírito Santo me anima. Também me anima debater soluções para desafios em áreas tão importantes como a infraestrutura, saúde, segurança, educação, debater caminhos e alternativas para o futuro. Mas só o tempo dirá se serei candidato e se o PMDB terá candidato. Há tempo para tudo, isso inclusive é bíblico.

O que deverá pesar para sua decisão?

Essa é uma construção coletiva e será conduzida pelo partido. Mas sempre serei um quadro disponível para missões relevantes para o Espírito Santo. Não é uma decisão individual minha, é compartilhada. Não faço política nem gestão com individualismo. Sempre tive capacidade de ouvir, de delegar. Diria que estou livre leve e solto para 2014.

Sua possível candidatura significa o fim da união de forças em favor do Estado?

O Estado passou por uma profunda crise em todos os sentidos e dimensões. Era um ambiente que facilitava a frente ampla, ela se fazia necessária para o enfrentamento dos desafios. Depois dessa reconstrução, o Espírito Santo é outro, está em melhores condições financeiras e econômicas, tem tudo para bombar. Deixamos o Estado nessa situação. Portanto, não mudei de opinião, a situação é que mudou. O Estado ainda tem problemas, mas as condições são infinitamente melhores do que quando assumimos em 2003.

Então a união de forças hoje não é mais necessária?

Contribuir para o debate político é importante. Não há crítica aqui nem ruptura. Meu mandato sempre foi e será comprometido com a defesa do Estado. Mas com a virada extraordinária que demos, com esse patrimônio consolidado, é natural que os partidos pensem em alternativas e propostas. Foi assim em 2010. Nunca me movi por interesse próprio por interesse particular. Foi assim em 2010, fizemos uma aliança, minha tarefa foi disputar o Senado e a população me deu a maior votação da história do Estado.

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